Equivocos da democracia portuguesa - 214
Mais uma semana de grandes confusões, num país cada vez mais sem rumo, com a classe média esmagada, classe média que foi, ao longo dos tempos, o pilar do regime. Num país à beira da albanização que esperança nos resta? Cada vez mais vozes se levantam face ao rumo que as coisas estão a tomar. Desde logo, um dos mais acérrimos críticos tem sido o bispo D. Januário Torgal Ferreira. Depois destes ataques à comunicação social, com a quebra de dotações para a Lusa, a única agência noticiosa portuguesa, levou D. Januário a afirmar que "a comunicação social está a viver uma hora vergonhosa". Voz esclarecida, D. Januário colocou o dedo na ferida. Daí a incomodidade que criou. A agência Lusa é uma ponte informativa para o interior do país, longe dos grandes centros dos "media", bem como para com a diáspora. Sem ela a informação sofre um rude golpe. Estes cortes que são feitos em nome da austeridade do "custe o que custar", ou são cegos logo irresponsáveis, ou são cirúrgicos e merecem o nosso repúdio. Talvez a informação seja uma coisa que incomoda os poderes instituídos do momento. Uma tentação que volta e meia aparece vinda dos mais variados quadrantes. Mas o aproximar da entrega do OE 2013 na AR, leva a um cerrar de fileiras que é transversal a muitas classes sociais e profissionais. Desde logo a dos magistrados do ministério público que acham que o PR deveria pedir a fiscalização preventiva do TC, visto que, segundo eles, "o governo continua a ignorar a Constituição". Mas a Igreja que tem sido uma das vozes mais críticas no momento, não deixa de vir a terreiro de novo. Depois de D. Januário, foi Frei Fernando Ventura, um frade franciscano que por diversas vezes tem vindo a terreiro elevar a sua voz contra aquilo que considera errado. Frei Fernando Ventura clama com todo o vigor da sua voz: "Acabou a vergonha". E coloca o dedo na ferida dos que tudo têm face àqueles que vão perdendo o pouco que ainda tinham. Falou de desnorte, de medidas avulsas sem olhar às consequências, de reformas milionárias - na casa dos 350.000 euros/mês (!) - que davam para "manter o infantário que giro em S. Tomé durante 17 anos, apenas um mês dessa reforma"! "Por tudo isto", diz Frei Fernando Ventura, "peço desculpa aos portugueses". Mas também pede desculpa por aqueles que sabendo destas situações não as taxam, deitando sobre os ombros da classe média e não só, a canga que a vai esmagando, que a vai destruindo, aniquilando assim um dos pilares do regime. E quando se diz que ou é isto ou o dilúvio, tal não corresponde à verdade. Portugal já recebeu cerca de 80% daquilo que tem direito do acordado com a "troika", temos que começar a preparar-nos para ir aos mercados e para crescermos, como temos feito e continuaremos a fazer, porque com "troika" ou sem ela, o dinheiro que de lá tem vindo está a chegar ao fim. O problema é que de crescimento não se vê nada, embora se fale muito dele, e enquanto a economia não crescer não interessa a austeridade que se aplica, nada vai resultar, a não ser o empobrecimento do povo e da nação. Como diz Manuela Ferreira Leite, "que interessa ter salvo um país, se no fim estamos todos mortos?" E, apesar de todas as críticas e alertas, o PM foi a Bucareste, à Cimeira Europeia. E, pasme-se, quando os PM grego e espanhol fizeram sentir as dificuldades por que os seus países estão a passar, - e Espanha ainda nem pediu resgate -, o PM português achou por bem não dizer nada!!! Que Passos Coelho alinha incondicionalmente com Merkel já todos sabemos, mas que ignore o que se está a passar com as populações é outra coisa. Passos Coelho está a ignorar uma outra linha que se está a abrir na Europa, que põe a tónica no crescimento e no emprego, que têm tido significativos avanços com Hollande e Durão Barroso. Porquê esta atitude? Em nome de quê se aje assim, ignorando o sofrimento dum povo, o empobrecimento duma nação? Afinal que faz mover - ou nem por isso -, Passos Coelho?
0 Comments:
Post a Comment
<< Home