Turma Formadores Certform 66

Friday, October 05, 2012

No 102ª aniversário da República

"O inferno não existe, o inferno é este lugar em que estamos, o inferno somos nós". É com esta frase de Rimbaud que inciamos esta crónica que pretende celebrar o 5 de Outubro de 1910 e a consequente implantação da República. Porque estamos longe dos desígnios desses homens que imaginaram o sonho utópico de mais liberdade, igualdade e fraternidade, pilares fundamentais da democracia, ecos vindos da distante Revolução Francesa de 1875! Mas hoje as coisas são diferentes. Muita água passou sob as pontes desde então. Hoje vivemos mergulhados num país sem esperança e sem futuro, com a classe política desprestigiada, com as instituições ignoradas, com uma população desesperada. Há dias num fórum sobre o futuro de Portugal foram entrevistadas duas pessoas, uma mais idosa e outra mais jovem. A mais idosa, um reformado, dizia que já não havia esperança, que tinha uma filha com 44 anos e um genro com 50, que tinham ficado desempregados em 24 horas! E acrescentava: "Já não à luz ao fundo do túnel, apagaram essa luz, apenas mais e mais túnel". O segundo interlocutor, um jovem estudante universitário, dizia que apesar das dificuldades havia que continuar a lutar por dias melhores e acrescentava: "Se não existe luz ao fundo do túnel é preciso que nós a coloquemos lá em nome dum futuro diferente". Ambos foram convidados a escolher uma música que se adaptasse ao momento. O mais idoso escolheu "É preciso avisar a malta" de José Afonso porque achava que era tempo de lutar, de retomar uma luta interrompida anos antes. O mais jovem escolheu "A cavalgada das Valquírias" de Richard Wagner porque, segundo ele, é preciso algo de épico e mobilizador para que se vá em frente e se superem os obstáculos. Duas visões, dois tempos diferentes, duas experiências de vida. Se compreendemos o primeiro, até talvez subscrevamos os seus anseios, não deixamos de enaltecer o segundo. Um jovem que acredita que há um caminho a fazer independentemente das contrariedades do momento. Pensamos que este será um espírito de futuro, o verdadeiro espírito para celebrar um 5 de Outubro, um espírito que, tal como há 102 anos atrás, celebra a utopia dum mundo melhor, mais igualitário, mais justo, indiferente aos "velhos do Restelo" que por aí andam. Este ano, e pela primeira vez desde 1910, o PM não estará presente (!) com uma agenda que o leva a estar com os seus parceiros europeus. Os mesmos parceiros a que não se juntou quando há dias se reuniram com Mario Monti, para falar dos países em crise, e lá estiveram a Irlanda, a Grécia, a Espanha... Mas esses gestos, normalmente, ficam com quem os toma. Com quem arranja pretextos para não estar junto das populações, porque tem medo delas, afinal das mesmas populações que os colocaram no poder. Mas desses a História não rezará, porque mesquinhos, porque menores, porque irresponsáveis. A utopia cumprir-se-á com gente como este nosso jovem que se recusa a ficar num canto a carpir mágoas. Que se recusa a emigrar porque sabe que o seu país necessita do "know-how" que ele está a adquirir. Que sabe que o poder é sempre efémero. Assim, se cumprirá mais um aniversário da República, - o último, segundo o PM -, apenas mais um para todos aqueles que defendem ideais que se sobrepõem à mesquinhez tacanha do momento. Viva a República!

0 Comments:

Post a Comment

<< Home