"Viagens na minha terra" - Almeida Garrett
“Viagens na Minha
Terra”, pode ser considerado um romance contemporâneo. Um livro difícil de
enquadrar em género literário, pelo hibridismo que apresenta, além da viagem que
de facto acontece, paralelamente o autor conta um romance
sentimental. O conteúdo da
obra, parte, como já dissemos, de um facto real, uma viagem que Garrett fez a
Santarém e que teve o cuidado de situar no tempo. Além da viagem real, Garrett,
faz nas suas divagações, várias viagens paralelas. Tantas e tais viagens, que
numa delas o leva justamente, e pela mão de um companheiro de itinerário, a
centrar-se no drama sentimental de Carlos e a”menina dos rouxinóis”-
Joaninha. O Romance
resume-se, a intricada história, de uma velhinha com sua neta Joaninha. A menina
– moça, tem um primo, filho da única filha da avó, que já falecera. A moça tinha
por si só a avó. Todas as semanas, Frei Dinis, vinha visitá-las, e algumas vezes
trazia notícias de Carlos, que já algum tempo, fazia parte do séquito de D.
Pedro. Só que a maneira
como Frei Dinis falava de Carlos, dava para perceber algo, que só a idosa e
Frei Dinis conheciam. Passara o ano de 1830, Carlos formara-se em Coimbra, e só
então visitou a família, mas com muitas reticências em relação a avó e Frei
Dinis. Carlos também pressentia que ele e a avó mantinham um
segredo. Carlos, nas suas
andanças, já tinha eleito uma fidalga para ele: D. Georgina, mulher de fino
trato. No entanto a
guerra civil progredia, eram meados de 1833. Os Constitucionalistas tinham
tomado a Esquadra de D. Miguel, Lisboa estava em poder deles, e Carlos era um
dos guerreiros da parte Realista. Em 11 de Outubro,
os soldados estão todos por volta de Lisboa, as tropas constitucionais vinham ao
encalço das Realistas, e na batalha sangrenta, muitos ficaram
feridos.
Ainda nesse ano perdeu a filha recém-nascida. Novamente em Inglaterra, publica Adozinda
(1828) e Catão (1828). Juntamente com Alexandre Herculano e Joaquim António de Aguiar, tomou parte no Desembarque do Mindelo e no Cerco do Porto em 1832 e 1833. A casa de Joaninha
foi tomada por soldados Realistas, que vigiavam a passagem dos
Constitucionais.Numa das andanças
de Joaninha, por perto de casa, encontra Carlos, ele pede que não diga que ali
está, mas abraçam-se e trocam juras de amor ali mesmo. Só que Carlos sabia que
Georgina o esperava, e a sua mente tornou-se confusa, já não sabia se amava
Georgina.Com Carlos ferido
e alojado perto do vale onde morava Joaninha, essa veio inúmeras vezes vê-lo, e
ajudá-lo na enfermidade. Certo dia Carlos
depois de muita insistência de Joaninha foi ver a avó, e ficou surpreso da
cegueira da mesma, por lá encontrou Frei Dinis, e quanto mais o olhava , menos
gosto tinha. Enquanto
permaneceu por perto, Carlos e Joaninha mantiveram um tórrido
romance. Mas, Carlos, já
refeito dos ferimentos seguiu para a tropa, e antes passa na casa da avó para se
despedir. Implora que ela conte a verdade sobre o suspeito segredo. Então, Dona
Francisca conta que o Frei Dinis é pai de Carlos, que a sua mãe morreu de
desgosto, e para se defender, Frei Dinis mata o pai de Joaninha, e o marido da
sua amante. Com isso Carlos
parte, deixando Joaninha desolada. Volta a viver com Georgina. Escreve à prima
contando todo o seu romance com Georgina, o que para a moça foi um impacto
terrível. Mais Tarde Carlos se fez Barão. Também abandona Georgina , que vira
Abadessa. Joaninha,
enlouqueceu e morreu. Frei Dinis foi quem cuidou da velha senhora até á
morte. E assim o Comboio
chega ao Terreiro do Paço, e Garrett finaliza mais uma das suas melhores
obras. Esta é a sinopse desta obra magistral como tantas outras do autor. Quanto ao autor sabe-se que João Baptista da Silva Leitão nasceu no Porto a 4 de Fevereiro.Na adolescência foi viver para os Açores, em Angra do Heroísmo, quando as tropas francesas de Napoleão Bonaparte invadiram Portugal e onde era instruído pelo tio, D. Alexandre, bispo de Angra. Em 1816 seguiu para Coimbra, onde se matriculou no curso de Direito. Em 1818 publicou O Retrato de Vénus, trabalho que lhe custou um processo por ser considerado materialista, ateu e imoral.E neste mesmo ano que ele e sua familia passam a usar o apelido de Almeida Garrett. Participou da revolução liberal de 1820, seguindo para o exílio na Inglaterra em 1823, após a Vilafrancada. Antes havia casado com Luísa Midosi, de apenas 14 anos. Foi em Inglaterra que tomou contacto com o movimento romântico, descobrindo Shakespeare, Walter Scottt e outros autores e visitando castelos feudais e ruínas de igrejas e abadias góticas, vivências que se reflectiriam na sua obra posterior. Em 1824, seguiu para França, onde escreveu Camões (1825) e Dona Branca (1826), poemas geralmente considerados como as primeiras obras da literatura romântica em Portugal. Em 1826 foi amnistiado e regressou à pátria com os últimos emigrados dedicando-se ao jornalismo, fundando e dirigindo o jornal diário O Português (1826-1827) e o semanário O Cronista (1827). Teria de deixar Portugal novamente em 1828, com o regresso do Rei absolutista D. Miguel. Em 1851, Garrett é feito visconde de Almeida Garrett em duas vidas,
e em 1852 sobraça, por poucos dias, a pasta
dos Negócios Estrangeiros em governo presidido pelo
Duque de Saldanha. Falece em 1854, vítima de cancro. A edição que vos proponho é da Editora Civilização embora muitas outras tenham lançado este livro. O "fac-simile" não é o da edição proposta porque não o encontrei. Um livro a (re)ler, para aqueles que já tiveram o prazer de o ler quando estudavam talvez seja uma boa oportunidade de mergulharem na bela obra de Almeida Garrett, para os outros será a descoberta de um grande livro do não menos grande autor.
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