Equivocos da democracia portuguesa - 207
Hoje reune-se o Conselho de Estado para analisar a situação política e económico-financeira em Portugal. As expectativas são grandes embora pensemos que do Conselho nada sairá de muito significativo. Depois das manifestações do passado sábado, nada ficou como dantes assim o esperamos. Embora já nos vamos habituando à ideia de que nos comportamos muitas vezes como crianças que rapidamente se cansam do brinquedo que têm, daí o alerta para que esta manifestação de cidadania que as populações deram não se esgote duma forma inconsequente. Depois do desnorte do governo que conduziu às manifestações, Paulo Portas veio abrir mais uma brecha. Nada que nos surpreenda porque o CDS/PP ao longo do tempo sempre se tem comportado como um falso aliado, sempre com um pé dentro e outro fora, estando de bem tanto com Deus como com o diabo, aproveitando as flutuações do sentimento dos potenciais eleitores. Embora os partidos da coligação se tenham reunido ontem para colar o que entretanto se partiu, tal como o objeto quebrado, nunca mais será igual, isto é, nada mais será como dantes. Porque a confiança foi abalada e, ao que julgamos saber, os dois líderes não confiam um no outro e com dificuldades de relacionamento. É neste emaranhado de incertezas, com a situação a agravar-se dia a dia, que se vai reunir o Conselho de Estado. É certo que o futuro deste governo parece estar traçado, e se não o estiver, apenas se arrastará pela conveniência do momento ou dos políticos. Com um primeiro-ministro que não tem experiência nem saber para o cargo que exerce, - "sempre viveu à sombra do partido e de alguns amigos que lhe ofereceram uma espécie de emprego", quem o afirma é Pedro Dias ex-diretor-geral da Biblioteca Nacional que o conhece bem -, com um ministro de Estado que faz uma licenciatura num ano(!), com os "amigos" a assaltarem a Direção Regional de Saúde do Norte - como hoje é notícia - sem que para isso tenham habilitações, vindo a prestar falsas declarações, neste atoleiro em que a política portuguesa se transformou, onde se criam "jobs" a qualquer preço para os "boys" do partido ou que em torno deles gravitam, - e as gorduras do Estado lá continuam -, é também neste clima que se reune hoje o Conselho de Estado. E perguntarão, legitimamente, o que se espera dele? Diremos que muito pouco ou nada. Três cenários são possíveis para nós: ou a demissão do governo e eleições antecipadas; ou a criação dum governo de iniciativa presidencial; ou, finalmente, a manutenção do governo com alguns avisos que serão dados pelo Presidente da República. Se calhar, este último será o escolhido. Sabe-se como Cavaco Silva atua, e logo, com um governo que é da sua área política. Sempre vimos Cavaco sem ações de monta, ficando-se sempre pelas palavras que ninguém segue, escondendo-se sistematicamente atrás dos arbustos, esperando que o seu mandato acabe o mais rapidamente possível. Cavaco nunca foi um homem de ação, e agitando o medo sobre todos nós, com o agravar da situação, com a Europa, com os mercados, serão sempre as justificações que utilizará para que tudo fique na mesma. Se esperamos algo da reunião de hoje, já o dissemos que não. Contudo, está convocada uma manifestação para Belém para a altura da reunião. A cidadania a exercer-se de novo, a mostrar que as populações estão atentas, preocupadas e vigilantes. O que não sabemos é até quando!...
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