Turma Formadores Certform 66

Monday, September 17, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 206

Depois dos alertas, depois do povo sair à rua, é legítimo perguntar: E agora? Mas este agora, não é o futuro de amanhã, que esse já sabemos, que será desgraçado. Trata-se isso sim dum outro futuro, do futuro dos nossos filhos e/ou dos nossos netos. O futuro a vinte ou trinta anos de distância. E aqui as nossas preocupações elevam-se exponencialmente. Como dizia Edgar Morin: "O futuro hoje já não é o que era antes". Porque a vida mudou, porque o ciclo do capitalismo se alterou na sua senda de fluxos e refluxos, porque nós nos vamos também transformando fruto do envolvimento social em que estamos inseridos. E por isso é urgente pensar. Um exercício de que muitos não gostam, de que muitos não estão habituados, de que alguns sentem incómodo. Para usar as palavras de Alberto Caeiro (um dos heterónimos de Fernando Pessoa): "Pensar incomoda como incomoda andar à chuva". É isso mesmo. Por vezes, parece-nos mais interessante meter a cabeça na areia e julgar que lá fora tudo se resolve. Puro engano. Está na hora de saírmos da nossa zona de conforto. Porque o destino é nosso, é de todos, o futuro está aí ao dobrar da esquina, porque isto também é um ato de cidadania. As manifestações de sábado a isso nos conduzem. À participação, ao envolvimento, ao não permitir-mos que outros decidam por nós. Não será cómodo, mas será seguramente eficiente. Cada vez mais, temos que ter a noção de que Portugal não precisa de "sound bites" - como os que temos assistido no fim-de-semana, que se perderá na espuma dos dias, ruídos inconsequentes que a nada levam, embora sejam bons para notícias - mas devemos pensar o país e nas formas de o projetar no futuro. Como dizia Camões: "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se a confiança". Hoje o capitalismo assume outras formas, de que as reações que temos assistido entre nós nos últimos dias, são disso exemplo. Hoje trata-se duma guerra entre o capitalismo industrial e o capitalismo financeiro. Daí que tenhamos que mudar o paradigma e isso só é possível com mais cultura. A crise tem destas coisas. Por vezes, aquilo que no imediato nos afigura como mau e sem esperança, pode ser o motor que nos obrigue a pensar em algo de diferente. Parar para pensar é o que se faz - ou se devia fazer - em momentos de crise. A crise é o verdadeiro pano de fundo para se pensar o futuro. E isso é o mais importante. Que futuro queremos legar aos nossos filhos e/ou aos nossos netos? Os nossos filhos nunca terão o nível de vida que nós tivemos e os nossos netos, provavelmente, não terão o futuro que os seus pais tiveram. Só que isso não significa que a diferença seja para melhor, bem pelo contrário, ela será certamente para pior. Porque o capitalismo assumiu outras formas e outras lutas, porque o tabuleiro onde se jogam os novos interesses também mudou. Porque o capitalismo está em refluxo. Porque o capitalismo está em retração na curva descendente do ciclo. Por isso é urgente que nos ajustemos, que pensemos, que o discutamos porque é o legado das gerações futuras que está em causa. Temos por isso a obrigação de o fazer. Daí a pergunta: E agora? Temos que encontrar as respostas rapidamente antes que seja tarde, demasiado tarde!

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