Equivocos da democracia portuguesa - 205
...E o povo saiu à rua!... Depois de ter assumido as medidas da "troika" como necessárias, o povo cansou-se de discursos vazios e desastrosos, primeiro de Passos Coelho, depois de Vítor Gaspar. Neste laboratório em que se tornou Portugal, o experimentalismo tem sido palavra de ordem. E algumas medidas têm sido tão estapafúrdias que a "troika" - através do seu chefe de missão, - Abebe Selassie -, teve que vir a terreiro distanciar-se das mesmas, nomeadamente da questão essencial em torno da TSU. O governo falhou. Falhou na execução, falhou nos objetivos, falhou na comunicação. Muitos analistas dizem que o último discurso do PM foi o mais desastroso já visto em terras lusas. Por tudo isto, o povo saiu à rua! Tínhamos alertado em textos anteriores para o perigo de se quebrar a ligação das populações com as medidas exigidas, que impunham um cuidado extremo no seu ajustamento. A resposta aqui está. O discurso do "custe o que custar" levou-nos aqui. Num governo sem rumo, desconexo, sem saber bem para onde ir e o que fazer, levou a que chegassemos aqui. E não se olhe só para a oposição para justificar o que se passou. Manuela Ferreira Leite continua a incentivar os deputados a votar contra o OE 2013 ou a demitirem-se da AR. Pacheco Pereira diz que o "governo está no fim". Um dos vice-presidentes do CDS/PP, Augusto Lima, acusa o governo de "experimentalismos". Outros dirigentes do CDS rejeitam as medidas do executivo que também é o seu, como aconteceu na semana passada em reunião com Vítor Gaspar, como foi o caso de João Almeida. A confusão é muita, o desnorte é enorme, a fuga em frente parece ser a saída. Apesar dos recados enviados, o silêncio de Portas é ensurdecedor. Bagão Félix diz que "o ministério das finanças não é uma academia" e acrescenta que "a melhor distribuição dos saberes é um dos nossos erros". António Capucho diz que existem "erros de comunicação". Por tudo isto o povo saiu à rua. Numa coisa Passos Coelhos esteve certo na entrevista que deu a semana passada à RTP1 a de "o problema da dívida é para quinze ou vinte anos". Já por diversas vezes aqui defendemos isso. Dissemos então, que esse ajustamento é para uma geração. Ouve quem duvidasse, a resposta está aqui, talvez a mais certa que o PM deu nos últimos tempos. Mas não se pense que a manifestação acabou com os nossos problemas. A realidade aí continua a dizer que os sacrifícios terão que ser feitos. Não há austeridade sem dor. Porque o país se endividou excessivamente, porque o país se deslumbrou e entrou em facilitismos. E os ajustamentos têm que ser feitos sob o perigo de nos esvanecermos como nação. Só que existem outros caminhos. Caminhos que o governo não quer ver - mas sabe que existem - na sua senda ultraliberal de ir muito para lá do "memorandum" da "troika". Existe outra via. Em política não exitem inevitabilidades. Fazer política é pensar o futuro, é projetá-lo, é construí-lo. A política do "custe o que custar" colocou-nos aqui. Nunca se viu tantas pessoas na rua depois de Maio de 1974. O povo saiu à rua a clamar por um futuro que não tem, por uma esperança que lhe roubaram. Na sua última entrevista, Passos Coelho dizia que, "não se governa para o que diz a rua". E agora, senhor PM? Que futuro nos promete, que esperança nos devolve, que paradigma nos oferece? Nada será seguramente como dantes. Não será nem pode ser. Que fazer agora, depois de termos chegado aqui? Por tudo isto, o povo saiu à rua!...
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