Turma Formadores Certform 66

Tuesday, September 11, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 203

Perante as medidas acrescidas de austeridade, mais aquelas que não foram ditas e que virão por aí em breve, Passos Coelho viu-se na obrigação de "pedir desculpa" aos portugueses na sua página do facebook. Não percebemos se tal gesto compagina uma atitude séria e sentida ou se se trata apenas de mais uma manobra política e como tal dilatória. Mas isso não vai resolver o problema dos portugueses e das suas vidas nos próximos anos. Basta ver o número de comentários que em poucas horas se registaram e do seu conteúdo. É como se um indivíduo tivesse atirado a matar sobre alguém e logo de seguida apresentasse as suas desculpas, quiçá, as suas condolências à família, e continuasse como se nada tivesse acontecido. Só que neste caso o indivíduo em causa seria detido, quanto ao PM nada lhe vai acontecer apenas uns desabafos que logo são eliminados da página. Seja como for, Passos Coelho, na sua qualidade de PM ou de simples cidadão, viu-se na obrigação de dizer mais alguma coisa do que tinha dito horas antes. Na comunicação que então fez, Passos Coelho deixou um cortejo de interrogações sobre o que disse. Como no domingo passado, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou e bem: "Passos Coelho é um PM impreparado". Uma simples frase que diz tudo. E até deixou algumas dicas ao ministro das finanças sobre a intervenção que irá fazer dentro de dias, - e que acusa de ser uma pessoa fora da realidade apesar da sua grande inteligência -, bem como, ao PM na entrevista que esta semana dará. Há muita coisa por explicar, sendo a maior delas, o aumento de sacrifícios em nome da criação de empregos que todos sabemos que não irão acontecer. Bagão Félix, homem muito próximo do CDS, afirma que "se deu a machadada final no regime previdencial da segurança social". D. Januário Torgal Ferreia, bispo das FA, já veio afirmar que "o discurso do PM é uma pura vilania". Todos sabemos como atua a Igreja, e quando vemos figuras proeminentes dela a fazerem afirmações destas dá que pensar. A própria Igreja já não está com o governo, fruto da sua prática social que vai aumentando dia a dia, e que é um barómetro da situação nacional. Mas até agora tínhamos assistido a um CDS a passar entre os pingos da chuva. Mas essa máscara caiu finalmente. Depois de ter afirmado que não aceitava maior carga fiscal sobre os portugueses, lá foi olhando para o lado, quando o PM o fez embora cabotinamente embrulhada num disfarce que a ninguém enganou. E como se ainda não bastasse, ontem soubesse que o CDS e o PSD, deixaram cair o tema da devolução das casas ao bancos saldarem os seus empréstimos para com estes. Mais um "jackpot" à banca depois daquele que receberam na sexta-feira passada. Talvez o governo pense que os portugueses, apesar de serem esmagados diariamente pelas medidas de austeridade, ainda vivem suficientemente bem para que não dêem "prejuízo" aos banqueiros. A dúvida existencial que aqui se coloca, é se tudo isto tem a ver com a ideologia liberal da "troika", ou se tem a ver com o ultraliberalismo do governo. Seja como for, todos sabemos que se está a ir muito além do "memorandum". Isso está a criar uma ideia que começa a germinar, que é a de repudiar a nossa adesão à UE. E isso é uma ideia perigosa e será, seguramente, uma ideia fraturante na sociedade portuguesa. Somos dos que defendem a continuação na UE e no euro, - já agora uma Europa federalista, caso contrário, nunca se ultrapassarão as pequenas querelas e os mesquinhos interesses -, mas isso não nos pode manter à exposição duma vilania sem par por parte da Alemanha. Esta, que já provocou duas guerras mundiais pela sua ideia de hegemonia e superioridade, ainda não aprendeu, e qual hidra ergue mais uma das suas sete cabeças. Não se deve confundir a árvore com a floresta, embora muitos o façam, ou por opção estratégica, ou por ignorância. Daí que vimos com satisfação uma ideia peregrina, que já defendemos por diversas vezes, que é a da saída da Alemanha do euro. Se a Alemanha não quer ajudar os restantes países, pois deve dar lugar a outro e simplesmente sair, ao fim e ao cabo, seguindo o caminho que tem indicado a outros. Quem defendeu esta ideia no passado fim-de-semana, foi George Soros. Economista controverso, nem sempre alinhado, pensamos que colocou o dedo na ferida duma forma definitiva. Seria bom que os restantes países da UE deixassem as suas querelas paroquiais por um momento, e se concentrassem nesta ideia. Talvez vivenciasse-mos a mudança de atitude da Alemanha como se de um passo de mágica se tratasse. Até lá, Portugal, bem como, os restantes países intervencionados, de economias fracas, pobres e periféricas, vão caminhando cada vez com mais dificuldade. Para a salvação ou para o abismo, são as questões que se colocam, questões a que até agora ainda ninguém conseguiu responder.

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