Conversas comigo mesmo - CVII
Escolhei hoje. Esta é, no essencial, a mensagem deste vigésimo primeiro domingo do tempo comum. A história de cada um de nós é quase sempre o resultado das opções que, para bem ou para mal, fizemos, ou das decisões que acertada ou desacertadamente fomos tomando ao longo da vida. Estas opções ou decisões têm às vezes especial importância e as suas consequências são irreversíveis. Pensemos, por exemplo, no momento em que alguém se decide por uma profissão ou carreira, ou quando elege a pessoa com quem vai compartilhar a vida matrimonial. A sua felicidade ou desgraça, a fecundidade ou esterilidade da sua vida têm a sua raíz, muitas vezes, nesses momentos. A liturgia da palavra põe hoje, precisamente, em destaque a opção e a decisão pessoal que somos chamados a fazer em relação a Deus. É que a fé, sendo antes de mais, um dom de Deus - "Ninguém pode vir a Mim se não lhe for concedido por Meu Pai" - é, também uma opção que temos que fazer: "Também vós não quereis ir embora?" E trata-se de uma opção que não podemos iludir nem adiar, pois ela é fundamental e decisiva no rumo e na qualidade da nossa vida. Mas a tentação é ficarmos pelo cinzento, para evitarmos a opção "branco ou preto", é ficarmos pelo morno, para evitarmos a opção "quente ou frio". Não gostamos, realmente, de nos enfrentar com certas disjuntivas. No entanto, aí está a palavra de Deus a dizer-nos que não podemos servir a dois senhores: "Escolhei hoje a quem quereis servir..." No entanto, no dia de hoje também aparece S. Paulo a dizer que: "Mulher obedecei a vossos maridos" para acrescentar: "Maridos amai as vossas mulheres". Isto, à luz dos dias de hoje, pode-nos fazer arrepiar, sobretudo, quando fazemos um juízo apressado. Se na primeira parte parece que S. Paulo estava a defender uma qualquer tese machista, ele apenas estava a por em confronto a família como núcleo fundamental na relação com Deus, já na segunda parte da frase isso se desvanesse, o que pode levar a alguma confusão. De facto, S. Paulo não estava a ser machista, até arriscava a sua lapidação, porque nesse tempo a mulher não valia nada, era um simples objeto, e a maneira como ele incita os homens a amá-las era, nesse tempo, uma fonte de escândalo, até quiçá, de ignomínia. Daí que uma leitura apressada pode levar-nos a uma interpretação menos feliz, se não recorrermos ao enquadramento temporal em que estas afirmações foram produzidas. Mas voltemos ao nosso grande tema de hoje, a escolha. A fé é a opção por Deus, como único absoluto da vida. Opção cada dia posta à prova, pois em cada dia o nosso eu tende a relativizar Deus e a absolutizar-se a si próprio, a prestar culto às criaturas ou aos ídolos que suas mãos criaram, a saber, o dinheiro, o poder, o conforto, o prestígio, o prazer, a ideologia, a moda. Ídolos-pessoas, ídolos-coisas ou ídolos-ideias. Ìdolos que nos prometem muito mas que acabam por nos empobrecer, mutilar, escravizar. Saibamos, pois, optar: "Também nós queremos servir o Senhor!".
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