Conversas comigo mesmo - CV
E o prometido é devido! Chegou o tempo tão ansiosamente esperado de revelar o que até agora tem estado oculto. Helás! dirão alguns, finalmente! Embora já muitos de vós o soubessem, outros ainda se foram entretendo a adivinhar o porquê deste súbito e profundo afeto pela Inês do meu contentamento, a mais bela flor do meu jardim de Outono já desde há muito vestido. Este afeto não deixou de levar às mais variegadas conjeturas, mas nunca ninguém percebeu que a Inês é a minha (a nossa) adorada afilhada. Quando ainda no ventre da sua mãe, ela por cá apareceu para nos mostrar a ecografia e dizer que esta revelava que era uma menina e que o seu irmão Tiago gostava que se chamasse Inês, logo fomos convidados, nessa mesma altura, para ser os seus padrinhos. Algo que a princípio nos surpreendeu, mas que desde logo, deu lugar a uma imensa alegria. Era algo que desejávamos à muito e que o destino não nos tinha até então concedido. A surpresa deu lugar de imediato à aceitação e desde logo a Inês, embora ainda não estivesse entre nós, já começava a ser amada, a ser um membro muito querido desta família. Daí não tardaram os projetos, as conjeturas, os anseios, os desejos. A Inês passou, definitivamente, a ocupar um lugar muito importante nesta casa, um lugar muito importante nos nossos corações. E, tal como a semente lançada à terra que está em processo de germinação, a Inês foi fazendo o seu percurso, até que num belo dia de Outubro surgiu esplendorosa entre nós. Foi o desabrochar da mais bela flor do meu jardim de Outono, um Outono de vida que se aproxima do Inverno a passos largos, mas que espero que ainda vá a tempo de lhe transmitir alguns desejos, alguns anseios, alguns ensinamentos que a torne um ser melhor, um ser mais perfeito, um ser mais esplendoroso, que seja a luz num mundo cada vez mais às escuras, afundado em crises - não só económica ou financeira mas, sobretudo, de valores - que, infelizmente, parece ser o diapasão dos nossos tempos. Quis o destino que, ainda na maternidade e horas após o seu nascimento, eu tivesse o privilégio de ser a primeira pessoa que pegou nela ao colo, que a teve nos braços, depois dos seus progenitores. Não sei se foi uma mera coincidência, - será que as há? -, se foi uma premonição, mas a felicidade que tive foi sem limites. A Inês do meu contentamento, a mais bela flor do meu jardim de Outono estava ali, finalmente, nos meus braços. Frágil como todos os recém-nascidos, mas tão cheia de expectativas - que nem ela própria sabia que transportava em si! - que tornaram aqueles minutos (muitos) numa felicidade sem par. Como me foi difícil naquele dia deixar a minha bela Inês para dar lugar a outros que, tal como eu, ansiavam visitar o novo rebento. No dia seguinte lá voltei, como passei depois a reencontrá-la na sua casa, mais tarde na minha, num imenso amor que não necessitou de ir crescendo, porque grande ele já era, ainda a Inês estava em processo de gestação. E hoje estou a falar-vos de tudo isto porque hoje a Inês perfaz dez meses da sua ainda curta existência e, precisamente hoje, na altura em que este testemunho está a ver a luz do dia, eu estarei (nós estaremos) na Igreja a batizar a minha (a nossa) Inês. Oficialmente hoje, seremos os seus padrinhos de facto, embora já o fossemos à muito de coração. É um dia marcante, é um dia feliz, é um dia de alegria, é um dia de responsabilidade conscientemente assumida. A Inês que, entretanto, se vai aprimorando mostrando ser uma criança muito determinada, passou a ser a luz duma vida já acinzentada, como todas as que vão caminhando para o inevitável Inverno, como todas as que vão caminhando para o seu ocaso. E só isso me deixa triste, num paradoxo do dia de alegria e felicidade que hoje se celebra. Triste porque acho que não terei demasiado tempo disponível para ajudar a minha bela Inês a caminhar na vida. Veio tarde, demasiado tarde, embora com o amor incomensurável de alguém muito querido. Mas, se a vida assim o permitir, espero ainda ter tempo de lhe transmitir alguns valores que venho repetindo: o ensiná-la a ser solidária com o seu semelhante, o ser amiga e defensora dos animais, o ser respeitadora da natureza. Seja lá ela o que for, seja lá ela o que o futuro lhe destinar, se cumprir e aprimorar estes três vetores será necessariamente uma grande mulher. E como desejo que isso aconteça! Embrulhada no seu nome de rainha, estou certo que a Inês do meu contentamento não me desiludirá. Estou convicto que a mais bela flor do meu jardim de Outono brilhará com cada vez maior intensidade porque sabe que é muito amada, muito querida, muito desejada. Espero dela muito, talvez demasiado, mas estou habituado a colocar a fasquia da vida muito alta, onde só os melhores são capazes de passar. E a Inês será capaz de a ultrapassar, estou seguro. Como costumo dizer, os segundos são os primeiros dos últimos, por isso, só nos resta sermos os primeiros, os que praticamos a excelência, porque só desses a história irá fazer registo. A Inês, estou certo, será capaz da exigência que lhe imponho, da excelência que a colocará acima da mediocridade do mundo em que vai viver. Disso estou convicto. São os votos dos padrinhos. São os meus votos. Estarei sempre ao teu lado, este é o meu compromisso. Enquanto puder, enquanto o discernimento intelectual o permitir, enquanto tu o quiseres Inês, ter-me-ás ao teu lado, nunca caminharás sozinha. É o compromisso que hoje assumo, perante ti, perante o altar, perante o Ser superior, seja Ele qual for. Hoje brilhas esplendorosa como nunca no meu jardim de Outono. Serás a luz da minha vida, o farol da minha velhice. Força Inês, agora estamos oficialmente juntos embora já o estivéssemos há muito pelo sentimento. Agora Inês, caminharemos lado a lado.
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