Equivocos da democracia portuguesa - 197
Na passada semana fomos surpreendidos - ou talvez não! - com um novo e triste recorde de desemprego que atingiu os 15%. A este número, se juntarmos os recém-licenciados que não o encontram e os que desistiram de procurar emprego, este valor atinge os 20%, ou seja, fica acima do milhão e trezentos mil desempregados. Para além disso, o PIB continua a diminuir, - agora caiu 3,3% - a economia continua a afundar. Para utilizar uma expressão do Prof. Silva Lopes "Portugal está em recessão consecutiva à sete semestres. Este é o maior período desde 1978". Apesar deste descalabro, que não é de todo surpreendente, o PM na festa do Pontal à porta fechada, (não vá o diabo tecê-las), afirma que o próximo ano será de leite e mel a escorrer pelas paredes dos portugueses. Para 2013 não haverá recessão, afirma Passos Coelho, numa afirmação temerária que para se concretizar terá que haver um crescimento imenso para contrariar a tendência. Para se passar dos 3,3% deste ano para um valor positivo, o crescimento tem de ser astronómico, mas mesmo assim, o PM arrisca o prognóstico. Logo no dia seguinte, em entrevista à SIC Notícias, o ministro da economia vem desmentir, dizendo e bem, que há demasiados fatores - muitos dos quais não controlamos porque são externos - que podem levar a que não seja assim. Marcelo Rebelo de Sousa tem uma afirmação mais prosaica: "Passos Coelho não falou como economista mas como político e quis elevar a moral dos portugueses". Agora os portugueses têm que descodificar quando se fala numa condição e noutra. Depois de outros políticos terem anunciado o fim da crise, chegou a vez de Passos Coelho, potenciando assim o descrédito que os políticos e a política têm junto das populações. Será inevitável a renegociação da dívida para que Portugal comece a dar sinais de crescimento coisa que para já, e com esta política, não nos afigura possível, afirmação corroborada por Silva Lopes. Para além disso, há necessidade dum plano de ajustamento que tem de ser curto para dar azo a que seja possível dar os passos necessários e rápidos, para que não se caía naquilo que se chama de "fadiga do ajustamento" (adjustement fatigue), como está a acontecer na Grécia. (Porque não seguir o caso de sucesso da Islândia, que ao arrepio de tudo e de todos, está a encetar uma recuperação histórica? Até o FMI já veio dizer que afinal este caso é ímpar, o que dá a ideia de que o FMI reconhece que as políticas que anda a aplicar estão erradas. E que pensar quando a Finlândia já vem dizendo que está preparada para o fim do euro!). No entretanto, as afirmações como aquelas que ouvimos vindas do Pontal, só servem para aumentar a descrença e a desmotivação entre os portugueses. Entre esse discurso e a realidade cotidiana de cada um de nós vai um imenso abismo. Mas há que ir preparando as eleições. Para o ano começa o ciclo eleitoral com as autárquicas. E Passos Coelho parece que afinal não se está a "lixar" para as eleições e já começa a pensar numa recandidatura para 2015. Este é o discurso político que por cá impera, irrealista, falso, inconsistente, onde a tergirvação e a perfídia, são palavras de ordem. E depois, ainda nos admiramos da situação em que estamos! Afinal até parece que, embora contestando, gostamos do que vemos porque se assim não fosse não os teríamos colocado lá. Enfim, uma política de equívocos, numa democracia de equívocos, num país que anda equivocado há já demasiado tempo.
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