Conversas comigo mesmo - CVIII
Neste vigésimo segundo domingo do tempo comum trago-vos uma proposta deveras provocadora quando Jesus cita Isaías dizendo: "Este povo honra-Me com os lábios mas o seu coração está longe de Mim. É vão o culto que Me prestam..." Numa altura em que a hipocrisia campeia nas sociedades, que é transversal ao mundo, estas palavras não deixam de ter a maior atualidade até na sua essência provocatória. Honrar com palavras e ações é o desafio, é a dificuldade maior. Não basta dizer "Pai-Nosso..." é preciso não viver como "filhos únicos" e assumir seriamente a fraternidade com todos os homens, a amizade para com os animais e o respeito para com a natureza. Não basta dizer "Venha a nós o vosso Reino..." é preciso colaborar na defesa ou na implantação da justiça e da paz. Não basta dizer "Seja feita a Vossa Vontade..." é preciso querer descobrir, dia a dia, que gestos, que comportamentos, que práticas familiar ou social são mais coerentes com a fé que proclamamos. Não basta dizer "O pão-nosso de cada dia..." é preciso saber partilhar o que somos e temos, e comprometermo-nos numa mais justa distribuição dos bens necessários à vida de cada um, ao necessário para a subsistência dos animais, ao equilíbrio para com a natureza. Não basta dizer "Perdoai as nossas ofensas..." é preciso não recusar o esforço de compreender e de perdoar generosamente, não sete vezes mas setenta vezes sete. Não basta dizer "Não nos deixeis cair em tentação..." é preciso resisitir, com lucidez e coragem, ao contágio de um certo mundo que nos quer e pode manipular, embrutecer, desumanizar e aviltar. Num mundo em constante transformação, em constante conflitualidade, onde a hipócrisia campeia, nada de mais atual que estas palavras. Como vemos, esta não é uma situação de hoje. Há milénios atrás, já houve quem a denunciasse, mas parece que isso não foi suficiente. Como diz o povo: "Olha para o que eu digo e não olhes para o que eu faço". Mas este é um lema que não é só de alguns, mas sim, de todos nós, que entre aquilo que defendemos e aquilo que é a nossa prática quotidiana, vai um espaço infinito, que raras vezes se cruza. Há com certeza exceções, mas essas são apenas as que confirmam a regra.
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