Equivocos da democracia portuguesa - 210
Tem andado muito no ar o conceito de ignorância! E hoje resolvemos dissertar sobre ela. Sabe-se agora que o déficit do 1º semestre ficou nos 6,8% muito longe do estimado e que inviabiliza o acordado com a "troika" a menos que venham por aí mais impostos, que parece ser a única coisa para que o governo tem imaginação, ou recorra a receitas extraordinárias que a "troika" irá facilitar. Caso contrário, as contas públicas que estão em derrapagem há muito tempo, continuarão a derrapar ainda mais. Mas isto é o que dizemos nós, humildes ignorantes! A Segurança Social pode encerrar com um saldo negativo de mais do que 600 milhões de euros, coisa que já não acontecia vai para onze anos, o que porá em causa o futuro das pensões e reformas. Depois de abandonada a TSU com uma distribuição, no mínimo, bizarra. Mas isto é o que dizemos nós, humildes ignorantes! Que o desemprego continua a pular pulverizando novos recordes é um facto. Que os jovens não têm expectativas de futuro e os menos jovens não têm esperança é um dado que vemos diariamente. Mas isso é o que dizemos nós, humildes ignorantes! O único motor da economia portuguesa têm sido as exportações, mas estas tendem a abrandar com o arrefecimento das economias de destino, o que puderá levar a mais agravamento do déficit. Mas isto é o que dizemos nós, humildes ignorantes! Sabemos que não existem ajustamentos sem dor, e quem pensar o contrário está a enganar-se a si próprio. O problema hoje entre nós não é a "troika" mas aquilo que se está a fazer para além dela e do "memorandum" assinado. Afinal fomos nós que fomos pedir ajuda e continuamos a precisar dela. Por mais manifestações que se façam esta é a dura realidade. Não que pensemos que o povo deixe de se manifestar pelo esmagamento a que está a ser submetido, sobretudo a classe média, mas é preciso ter em linha de conta aquilo que por vezes, e no calor da luta, se diz e se reinvindica, que está em contraciclo com as decisões que o país tomou e que o colocou em regime de protetorado durante o período de ajustamento, ou durante o tempo que necessitarmos para isso, caso nos seja concedido. Mas isto é o que dizemos nós, humildes ignorantes! Que existem outros caminhos todos o sabemos, e já aqui o defendemos por mais de uma vez, mas este foi o que o país escolheu. E para aplicar o programa elegeu um governo que até tem maioria na AR e, por isso, legitimado para atuar. Embora a sua visão ultraliberal o tenha impedido de ver mais além, utilizando, medida após medida, falhanço após falhanço, a mesma receita que tem depauperado o país. Mas isto dizemos nós, humildes ignorantes! Que a recessão vai continuar por muito mais tempo, pensamos que já ninguém tem dúvidas. Que a classe média continuará a pagar a fatura também não oferece dificuldade de entendimento. Que a classe média é um pilar do regime também sabemos que é verdade. Que as populações começam a pôr em causa a própria democracia, já o vimos em várias sondagens. Que a recessão vai continuar ainda por muito tempo parece ser um dado que não oferece discussão. Que estamos a passar por dificuldades que levarão, pelo menos, uma geração parece-nos que já ninguém põe em causa. Mas isto dizemos nós, humildes ignorantes! Que para além de Portugal é a Europa e até os EUA que estão a perder elã que está a ser transferido para os países emergentes é uma verdade inquestionável. É clara a transferência da riqueza face ao PIB dos países. Que temos que pensar num modelo alternativo, um novo paradigma, para as sociedades ocidentais, nomeadamente a Europa e os EUA, já começa a ser discutido em alguns fóruns. Que nada será como dantes depois da tempestade passar é nossa convicção. Mas isto dizemos nós, humildes ignorantes! Depois de tudo o que atrás dissemos, fica-nos a sensação de que algo vai muito mal e que não nos estão a dizer toda a verdade. Mas também temos a sensação da falibilidade das nossas afirmações, afinal não passamos de uns humildes ignorantes! Fazemos parte do grupo de nove milhões novecentos e noventa e nove mil novecentos e noventa e nove cidadão deste país que vivem mergulhados na ignorância e no obscurantismo. Mas não estamos preocupados com isso, porque agora ficamos a saber que temos um, que vê muito para além de nós, uma espécie de salvador, de Sebastião que virá numa qualquer manhã de nevoeiro salvar-nos, esclarecer-nos, enfim, colocar-nos no caminho certo. Aquele que virá pôr fim à nossa existencial e proverbial ignorância que não nos deixa enxergar mais além!
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