Equivocos da democracia portuguesa - 211
A Europa está doente, muito doente. A Europa está em crise profunda mesmo no que diz respeito a países que ainda não necessitaram de ajuda. A infeção do euro em 1995, resultante de taxas de juro baixas foi fatal, e conduziu ao endividamento das famílias, onde o dinheiro era imediato, o crédito fácil, tudo se podia comprar à medida do nosso sonho. Com as taxas de juro excessivamente baixas, as famílias não poupavam, optando pelo gasto em consumo. Desde então perdeu-se o regulador - mediador sem fronteiras - enquanto os estados da Europa eram construídos uns contra os outros. O único elo era o dinheiro que fluia a jorros. Os bancos emprestavam - os portugueses e os outros - o dinheiro que vinha de fora e não o nosso dinheiro. Os países ricos transferiram os seus excedentes para os bancos dos países pobres como aconteceu connosco. O Estado que nos deixou portagens é o mesmo que nos condena à dívida pública. E só a estratégia federal da UE pode vir em nosso auxílio. O nosso país está a entrar nessa estratégia federal - que deverá acontecer no espaço duma década -, caso contrário, não consegue estagnar o processo da dívida. É neste emaranhado de questões, que os países de economias mais débeis se encontram, desde logo Portugal, onde o acaso duma bandeira ao contrário no 5 de Outubro, é um acidente quase premonitório, sendo o símbolo de negligência, de falta de atenção, que não mais, do que aquilo em que o nosso país se tornou. E esse sentimento é tão mais profundo, que leva a que homens próximos do atual PM, como Ângelo Correia, não se coíbam de dizer que "os sacrifícios que estamos a fazer não vão resolver nada". Porque a situação é mais profunda, sobretudo do ponto de vista da matriz ideológica, não só de Portugal mas da Europa no seu todo, em que "o assalto à mão armada" (Marques Mendes dixit), é apenas uma ponta do enorme icebergue que está a esmagar a classe média. E depois assistimos a algumas afirmações verdadeiramente ridículas como aconteceu com Víctor Gaspar quando afirmou que "o aumento da carga fiscal torna o sistema tributário mais igualitário". Isto é uma afirmação sem sentido, a menos que o ministro das finanças esteja a pensar na albanização do país - ao qual já falta pouco - onde somos todos pobres por contraponto ao que éramos antes. Não faz sentido e tem, seguramente, por trás uma componente ideológica forte. E depois ainda se admiram de na AR alguns deputados da maioria não se levantarem para aplaudir o PM, ou até não apoiarem de nenhuma forma, como foi o caso de alguns deputados do CDS/PP , entre eles o deputado pela Madeira, mas no PSD também houve que não gostasse, como foi o caso de Mota Amaral. Porque a dúvida permanece. Mas esta austeridade ainda nada tem a ver com a TSU! A austeridade ditada por Víctor Gaspar não é para cobrir a TSU. E se não é qual será a medida para tal efeito? Esta trapalhada em que o governo se vai atolando levou a que até o responsável das finanças já tenha deixado cair no discurso a diminuição do déficit, substituindo-o pela ida aos mercados. Mas, como muito bem dizia ontem Marcelo Rebelo de Sousa, a ida aos mercados não é importante para os portugueses, o que todos nós queremos saber, é o que virá de bom e quando, resultante das políticas que agora estão a ser aplicadas. E quanto a isso, silêncio absoluto. E de duas uma, ou o governo não sabe, e anda sem rumo, ou sabe, e não o quer dizer, ou porque não tem a certeza de alcançar os objetivos, ou por algo bem mais complicado. Neste país às avesas, onde os símbolos nacionais também não escapam, é caso para recorrermos ao pensamento Eugénio de Andrade, "as palavras estão gastas"!
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