Turma Formadores Certform 66

Tuesday, October 16, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 212

Hoje é um dia triste, depois de anunciado ontem o OE 2013. Se ainda tínhamos esperança de que algumas alterações seriam feitas de modo a tornar mais suave a carga sobre os portugueses, enganámo-nos. Vítor Gaspar, naquele seu ar pausado, lá foi desfiando o rosário. E daqui se concluí, sem grande dificuldade, que com este orçamento, no final de 2013, Portugal será o país mais pobre da UE. Mas a maior das dificuldades que temos é em aceitar a teimosia do executivo. Mesmo depois de Christine Lagarde, a diretora-geral do FMI, admitir que os programas estão a dar maus resultados, sugerindo mais tempo para as medidas, Passos Coelho acha que não, e até o seu ministro das finanças gasta alguns minutos a explicar o inexplicável. Que segredo será esse que o PM guarda para continuar com a política do "custe o que custar"? Passos Coelho deve assim achar Lagarde uma irresponsável! Quando Durão Barroso diz que não se pode continuar assim e que a austeridade não é responsabilidade da "troika" mas dos governos que são responsáveis por ela, Passos Coelho deve não só achá-lo irresponsável como até ligeiramente comunista! E que dizer das afirmações de Bagão Félix que chama às medidas do orçamento, "terramoto fiscal" e que "não vale a pena trabalhar"? E, já agora, que pensa o PM do seu padrinho político, Ângelo Correia quando afirma: "Os governantes não têm preparação para os cargos que desempenham"? A única questão é saber se estas medidas escondem um défice bem mais para além daquele que se diz. Não estará este na casa dos 7%? Porque será que Víctor Gaspar insiste em não falar do défice? Pacheco Pereira afirmou há dias na "Quadratura do Círculo" que: "Este governo já não governa, Portugal já não tem PM"! Até o sempre silencioso Cavaco Silva já admite que "não é correto exigir a todo o custo o cumprimento do défice"! É certo que, embora tendo tido várias oportunidades para o dizer em público optou pelo facebook, embora este tenha uma larga difusão. Quando Cavaco diz que "não é legítimo obrigar as populações a todo o custo ao cumprimento de um objetivo nominal para o défice" está a mandar um recado aos líderes europeus, mas sobretudo, a Passos Coelho. No passado domingo, Marcelo Rebelo de Sousa dizia que "Víctor Gaspar não falava na meta do défice porque não tem a certeza de o atingir". E acrescentava: "Que credibilidade tem um governo que deixa para o último dia as medidas que o povo não sabe?" Também ele, tal como Pacheco Pereira, acha que falta liderança ao PM e que o governo funciona duma maneira caótica. O problema é que o governo insiste na sua visão financeira e fiscal e não na vertente económica. É preciso dizer que há setores de atividade que já não existem e não voltarão mais. Daí cada vez mais se falar em crueldade em vez de austeridade. A taxa de crescimento da economia para o ano cairá 1%, enquanto a taxa de desemprego será de 16,4%, segundo o ministro das finanças, embora nós achemos que será superior. Mais de 80% da austeridade será fruto do IRS em 2013! É preciso não esquecer que a "troika" só queria um esforço de redução da receita em um terço, embora neste OE é quase na totalidade! É urgente fazer com que este OE seja fiscalizado pelo Tribunal Constitucional. Este OE a ser aprovado como ontem foi proposto será um rasgar do "memorandum" da "troika" e, como dissemos no início, colocar-nos-á na cauda dos países da UE! É caso para perguntar afinal porquê? Em nome de quê ou de quem se estão a fazer estes sacrifícios? Que segredo oculto está na posse do governo, que persisite na sua política de terra queimada, mesmo ao arrepio das instituições internacionais e até dos seus pares, arriscando-se a fragmentar um governo já de si bastante desagregado? E até quando os portugueses terão paciência para aguentar tudo isto?

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