Conversas comigo mesmo - CXVII
Nesta caminhada até ao fim do ano litúrgico, venho falando dos rituais e dos pensamentos católicos em cada domingo, no sentido de os dar a conhecer a quem deles carece, e o de os avivar a quem deles já se olvidou. No 29º domingo do tempo comum trago-vos uma mensagem bem atual, adaptada aos dias que correm vorazes, nestes tempos de incerteza. Lê-se no Evangelho: "Jesus chamou-os e disse-lhes: - Sabeis que os que são considerados como chefes das nações exercem domínio sobre elas e os grandes fazem sentir sobre elas o seu poder. Não deve ser assim entre vós, quem entre vós quiser tornar-se grande será vosso servo e quem quiser entre vós ser o primeiro, será escravo de todos; porque o Filho do Homem não veio para ser servido mas para servir e dar a vida pela redenção de todos". Profissão única, servir. A grande poetisa chilena Gabriela Mistral, prémio Nobel da Literatura, escreveu este belo comentário ao Evangelho de hoje: "Onde há uma árvore para plantar, planta-a tu. Onde houver um erro para corrigir, corrige-o tu. Onde houver uma tarefa que todos evitem, aceita-a tu. Sê dos que afastam a pedra do caminho, o ódio dos corações e as dificuldades do problema. Há a alegria de ser santo e de ser justo, mas há sobretudo a formosa, a imensa, alegria de servir. Que triste seria o Mundo se tudo nele estivesse feito, se não houvesse um rosal a plantar, uma obra a empreender. Mas não caias no erro de julgar que só há méritos nos grandes trabalhos. Há pequenos serviços que são bons serviços: pôr a mesa, ordenar uns livros, pentear uma criança. Há o que critica, há o que destrói. Sê tu o que serve. Servir não é trabalho de seres inferiores. Deus que dá fruto, a luz, serve. Poderia chamar-se-lhe assim: 'O que serve'. E tem os seus olhos fixos nas nossas mãos e nos pergunta em cada dia: 'Serviste hoje?' A quem? À árvore, ao teu amigo, à tua mãe? Servir. Esta foi a marca na fronte de Jesus. Esta deve ser a marca dos seus seguidores". Como se lê no Carta aos Hebreus: "Esta é a nossa Fé". A fé de servir, o próximo nosso irmão, o animal indefeso, a natureza destruída. Esta deve ser a fé que nos mantém em equilíbrio com o mundo que nos cerca neste planeta que habitámos. Quem disto se lembra, apesar de se dizer cristão? Quem faz disto a bandeira quotidiana?
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