Turma Formadores Certform 66

Monday, November 19, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 222

Estamos a viver uma mudança de paradigma na Europa, coisa nunca vista desde que a UE se constituiu. O que se está a passar entre nós faz parte de algo bem mais amplo e abrangente. Porque não é só Portugal, porque a restante Europa está num caos, porque o mundo ocidental de economia de mercado parece ter enlouquecido. Esta mudança de paradigma leva a uma destruição do estado social tal como o conhecemos e que era uma das bandeiras da Europa comunitária. Os interesses económicos e, sobretudo, os financeiros estão a conduzir a uma radicalização de molde a que tudo seja reduzido a cinzas sobre as quais se edificará um novo edifício que respeite um novo paradigma. O estado social tal como o conhecemos nunca mais voltará e os nossos filhos e netos olharão para isso como uma bizarria histórica. E não falem de dívida, de défice, de seja lá o que for, porque tudo isso são condições que foram criadas - pelos menos as condições que a isso conduziram - com vista a uma estratégia bem mais abrangente. Neste imenso jogo de xadrez não passamos de peões que são jogados a bel-prazer com vista a servir uma outra estratégia. E não basta gritar que isso pode levar ao fim da democracia enquanto tal, porque isso é o que menos interessa a estes agentes, nesta aparente liberdade que nos faz escolher alguém de quatro em quatro anos, e depois em nada mais somos chamados a participar. Esta aparente liberdade a que chamamos democracia faz-nos pensar que somos nós que traçamos os destinos das nossas vidas, dos nossos países. Mas está visto que não é assim. E se dúvidas ouvessem esta dita crise está aí para nos lembrar que não é assim. Cada vez mais, nas nossas reflexões, somos levados a pensar que o determinismo de tudo isto se joga bem mais longe, que a ilusão que por vezes nos é criada está muito para além dos políticos, dos partidos, dos regimes. Aliás, pensamos que cada vez mais estas instituições apenas servem como décor, como decoração dum pano de fundo que nos leva a criar esta projeção distorcida daquilo que pensamos ser a nossa intervenção cívica. Nesta aparente ilusão, vamos representando o papel de atores interventivos, determinísticos, quando no fundo não passamos disso mesmo, de atores. E mesmo os políticos, nomeadamente, aqueles que o são de países pequenos e periféricos, cuja voz é quase sempre ignorada, esses também não passam de atores, por vezes até de maus atores, que servem interesses maiores, estajam ou não conscientes disso. São uma espécie de agentes de outros interesses, mesmo que esses não coincidam com aquilo que pensam para os seus países. Somos peões num imenso tabuleiro, jogados de um lado para outro consoante as conveniências, que apenas tem por objetivo servir um interesse maior, seja lá ele qual for. Este determinismo histórico está a alterar a face da Europa, da Europa social, da Europa solidária, quiçá, até a mudar a face do mundo tal qual o conhecemos para um outro que nós - simples mortais - não sabemos qual é.

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