Turma Formadores Certform 66

Friday, November 09, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 220

Na próxima segunda-feira Angela Merkel vem a Portugal como já o tinha feito à Grécia numa espécie de visita de colonizadora ao seu protetorado. Muita controvérsia tem havido em torno dessa visita, mas ela também pode ser um momento importante para a viragem de muita da situação desgraçada em que nos encontramos. Isso depende, obviamente, da postura do governo. Ou ele será subserviente como uma espécie de colonizado, ou irá reinvidicar uma melhoria das condições para Portugal de modo a que possa fazer crescer a economia e sair deste atoleiro em que nos meteram. Vozes nesse sentido não faltam, a começar pela mais importante, a de Christine Lagarde - diretora-geral do FMI - que admitiu ontem que "a austeridade pode tornar-se insustentável nos países periféricos e pôr em causa a economia global". Mais eloquente que isto não se pode ser. Afinal, o FMI já tinha admitido que tinha errado na estratégia e que era preciso corrigir a mão. Mas se o FMI tem esta opinião, se admite que errou, então porque não faz nada para alterar a situação? É altura de se passar das palavras aos atos, e ser consequente. O CDS está a pressionar o governo - segundo o Público - no sentido de que esta visita possa ser aproveitada para a viragem. Veremos se Paulo Portas tem alguma força ou se será posto de lado como tem sido nos últimos tempos. Até porque a austeridade acabará por atingir a própria Alemanha. "Esta também será vítima da globalizalação" afirma a OCDE. Mas o que fica disto é que devemos aprender com estes erros consecutivos ao longo da História, - embora tenhamos dúvidas disso -, para não nos encontrarmos ciclicamente nesta situação. A propósito disto, trazemos de novo à colação uma nota do diário da rainha Vitória de Inglaterra, datada de 1845. Diz assim: "Albert está zangado, porque diz que tanto Fernando, como Dietz - precetor dos filhos da rainha - tinham obrigação, pela formação que têm, de saber analisar as finanças do país, os impostos cobrados e recebidos, as contas do Orçamento, a falta de crédito nacional e internacional, e aí ficariam sem dúvidas nenhumas. É que Portugal está à beira da bancarrota, os impostos subiram astronomicamente, e se é verdade que o novo ministro - Costa Cabral - foi capaz de tornar mais eficaz o aparelho de Estado e os mecanismos de cobrança, não é menos que quando se aliam mais impostos e mais burocracia à vida de um povo, e simultanemente a coroa e os governantes parecem menos sérios, a mistura é explosiva. Acabo este ano na certeza de que para Portugal o próximo vai ser difícil." - Castelo de Windsor, 20 de Dezembro de 1845. É tempo de nos afirmarmos pela positiva e não por esta situação que nos humilha e esmaga. Historicamente tem sido assim, já é tempo de aprendermos a arrepiar caminho. Podemos dizer que a dívida da Alemanha é dez vezes maior do que a portuguesa, o que é verdade. Mas a Alemanha tem uma maior produtividade e quem empresta a um rico sabe que vai receber, mas se for a um pobre leva-lhe juros altíssimos porque não tem a certeza. É isso o que está a acontecer connosco. Mas o importante é que lutemos por condições que façam crescer a economia, criar emprego e dinamizar o tecido produtivo. E a viagem de Merkel a Portugal, se for bem aproveitada, pode ser muito importante para isso. Caso contrário, ficaremos cada vez mais pobres, nesta apagada e vil tristeza em que vivemos. E como dizia Almeida Garrett, in "Viagens na Minha Terra" (1843), sobre os pobres: " ... ó geração de vapor e de pó de pedra, macadamizai estradas, fazei caminhos de ferro, construí passarolas de Ícaro, para andar a qual mais depressa, essas horas contadas de uma vida toda material, massuda e grossa como tendes feito esta que Deus nos deu tão diferente daquela que hoje vivemos. Andai, ganha-pães, andai : reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai - No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana ? Que há mais umas poucas dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico ? [ ... ] cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis." Quão atuais nos soam estas palavras. Que não são mais do que a leitura desta nossa sina espelhada ao longo do tempo.

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