Equivocos da democracia portuguesa - 224
Por mais incrível que possa parecer, ou talvez não, a
derrapagem continua e Portugal está cada vez mais na vereda do abismo. Durante
muito tempo a meta dos 4,5% para o défice era o objetivo para tantos
sacrifícios. Era a meta do “custe o que custar” se bem se lembram. Quem o disse
não fomos nós, mas sim, o primeiro-ministro. Foi em nome dessa meta que os
portugueses foram esmagados e o resultado está à vista. Mas mais do que isso,
agora alterou-se o discurso político, em vez do défice “custe o que custar”
passou para as metas. Este é um problema que achamos que mesmo a oposição ainda
não pegou devidamente. E o mais estranho é que a receita que tem sido aplicada
está a dar os péssimos resultados que todos vemos, mas o mais grave é que se
insiste na mesma receita para o ano, ainda mais agravada se possível, depois de
se ter constatado que esta mesma receita se tem revelado inócua. E
isto é tanto mais grave, quando a Direção-Geral do Orçamento (DGO), no seu
boletim de execução orçamental de ontem, onde se lê que a situação ainda se
agravou mais, estando o valor do défice em Outubro, - 8.145 milhões de euros -,
próximo do valor estimado e acordado com a “troika” para o final… do ano! Isso
significa uma coisa verdadeiramente extraordinária. É que ontem tendo sido
aprovado o orçamento retificativo, ele já está ultrapassado por esta
estimativa! A sensação que dá é que ninguém sabe para onde vai estando Portugal
e os portugueses a serem objeto duma experimentação hedionda como se de cobaias
se tratassem. Qualquer aluno do 1º ano de Economia sabe que esta é uma ciência
social, e por isso, não passível de ser testada em laboratório. Também sabe que
lhe dizem para se amadurecer bem as ideias antes da sua implementação para que
não exista um reflexo tremendo sobre as populações como é o nosso caso
atualmente. Nunca tínhamos visto este experimentalismo em lado algum, exceto na
América Latina – sobretudo, Brasil, Argentina e Chile – nos idos anos de 70, 80 e
90. Com as consequências que todos nós conhecemos, quando alguém decidiu fazer
desses países um campo de experimentação das teorias monetaristas de Milton
Friedman. Agora parece que somos nós a entrar nesse trilho e esperemos que não
acabemos da mesma maneira, com as mesmas consequências que esses países
sofreram nessa altura. Mas o que mais nos espanta é que achamos que Vítor
Gaspar é um economista prestigiado e competente, embora não estejamos de acordo
com as teorias que está a aplicar, isso não significa que não lhe reconheçamos
o mérito. Daí a pergunta singela que nos baila no espírito: com a competência reconhecida
de Vítor Gaspar, porque será que ele não percebe que a receita que está a
aplicar está errada, que não vai resolver os problemas do país e que o vai
conduzir ao subdesenvolvimento? Usando as palavras duma sua correligionária
política – Manuela Ferreira Leite – que afirmou e muito bem: “Que nos interessa
que no fim o país se salve se já todos estivermos mortos?” Que nos conforta ver
que Vítor Gaspar é muito elogiado no estrangeiro quando em Portugal a situação
é o caos a que ele nos tem conduzido e que todos conhecemos? Que leva a que
Vítor Gaspar continue a insistir numa receita quando o próprio FMI já admitiu
que errou achando que desta forma não existirá nunca qualquer crescimento
económico ou criação de emprego? Afinal, o que move Vítor Gaspar?
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