Turma Formadores Certform 66

Sunday, November 25, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 224


Por mais incrível que possa parecer, ou talvez não, a derrapagem continua e Portugal está cada vez mais na vereda do abismo. Durante muito tempo a meta dos 4,5% para o défice era o objetivo para tantos sacrifícios. Era a meta do “custe o que custar” se bem se lembram. Quem o disse não fomos nós, mas sim, o primeiro-ministro. Foi em nome dessa meta que os portugueses foram esmagados e o resultado está à vista. Mas mais do que isso, agora alterou-se o discurso político, em vez do défice “custe o que custar” passou para as metas. Este é um problema que achamos que mesmo a oposição ainda não pegou devidamente. E o mais estranho é que a receita que tem sido aplicada está a dar os péssimos resultados que todos vemos, mas o mais grave é que se insiste na mesma receita para o ano, ainda mais agravada se possível, depois de se ter constatado que esta mesma receita se tem revelado inócua. E isto é tanto mais grave, quando a Direção-Geral do Orçamento (DGO), no seu boletim de execução orçamental de ontem, onde se lê que a situação ainda se agravou mais, estando o valor do défice em Outubro, - 8.145 milhões de euros -, próximo do valor estimado e acordado com a “troika” para o final… do ano! Isso significa uma coisa verdadeiramente extraordinária. É que ontem tendo sido aprovado o orçamento retificativo, ele já está ultrapassado por esta estimativa! A sensação que dá é que ninguém sabe para onde vai estando Portugal e os portugueses a serem objeto duma experimentação hedionda como se de cobaias se tratassem. Qualquer aluno do 1º ano de Economia sabe que esta é uma ciência social, e por isso, não passível de ser testada em laboratório. Também sabe que lhe dizem para se amadurecer bem as ideias antes da sua implementação para que não exista um reflexo tremendo sobre as populações como é o nosso caso atualmente. Nunca tínhamos visto este experimentalismo em lado algum, exceto na América Latina – sobretudo, Brasil, Argentina e Chile – nos idos anos de 70, 80 e 90. Com as consequências que todos nós conhecemos, quando alguém decidiu fazer desses países um campo de experimentação das teorias monetaristas de Milton Friedman. Agora parece que somos nós a entrar nesse trilho e esperemos que não acabemos da mesma maneira, com as mesmas consequências que esses países sofreram nessa altura. Mas o que mais nos espanta é que achamos que Vítor Gaspar é um economista prestigiado e competente, embora não estejamos de acordo com as teorias que está a aplicar, isso não significa que não lhe reconheçamos o mérito. Daí a pergunta singela que nos baila no espírito: com a competência reconhecida de Vítor Gaspar, porque será que ele não percebe que a receita que está a aplicar está errada, que não vai resolver os problemas do país e que o vai conduzir ao subdesenvolvimento? Usando as palavras duma sua correligionária política – Manuela Ferreira Leite – que afirmou e muito bem: “Que nos interessa que no fim o país se salve se já todos estivermos mortos?” Que nos conforta ver que Vítor Gaspar é muito elogiado no estrangeiro quando em Portugal a situação é o caos a que ele nos tem conduzido e que todos conhecemos? Que leva a que Vítor Gaspar continue a insistir numa receita quando o próprio FMI já admitiu que errou achando que desta forma não existirá nunca qualquer crescimento económico ou criação de emprego? Afinal, o que move Vítor Gaspar?

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