Turma Formadores Certform 66

Monday, April 08, 2013

Conversas comigo mesmo - CXXX

Hoje completam-se doze anos sobre a morte de minha Mãe, Maria Odette. Era então um domingo solarengo, Domingo de Ramos. Pelas onze horas da manhã a minha Mãe desistia da vida, enquanto eu estacionava o carro no parque do Hospital Pedro Hispano, onde ela estava internada, e aguardava a entrada para a habitual visita. A minha mulher foi a primeira a entrar enquanto eu fiquei a aguardar, (nestas coisas de hospitais a coragem costuma faltar-me), estranhei a sua demora, até que ela apareceu com um saco cheio de roupa e a chorar. Deu-me a nefasta notícia. Não quis acreditar. Trouxe o carro até à casa dela, ainda hoje me pergunto como consegui. O mundo tinha acabado de desabar sobre a minha cabeça. Não pela morte em si, que já era coisa de não pequena monta, mas pelas condições que a isso conduziu. Já tinha enterrado a minha restante família, a minha Mãe era o elo que me restava. Isso ampliou também a irreparável perda, mas sobretudo, quando temos a sensação de que esta morte foi ampliada pela intolerância humana que outros tiveram para com ela, deixando na boca o sabor amargo de mais do que uma morte natural, um assassinato foi perpetrado. Não quero fazer disto um ajuste de contas com ninguém. Afinal já perdoei - julgo eu - àqueles que foram o verdadeiro móbil da situação. Não quero fazer disto uma punição que se repete ano após ano. Mas passados doze anos (que hoje se cumprem) ainda não consegui digerir a situação e o impacto que ela teve na minha vida desde então. Ainda hoje, enquanto alinho estas palavras, me parece ouvir a voz da minha Mãe a pedir para que eu perdoasse que ela já tinha perdoado à muito aos seus sicários. O vir aqui com esta triste efeméride, é uma espécie de catarse para quem desde então tanto tem sofrido. A minha Mãe tinha 66 anos quando partiu, ainda com muito tempo pela frente. Já viúva mas com muita dinâmica e coragem muito à imagem da sua mãe e minha avó. Hoje apenas a quero relembrar como se ainda estivesse junto de mim. Doze anos passaram e é como se tivesse acontecido à pouco. Posso retratar com pormenor as últimas semanas de vida que ela teve ponto por ponto. A minha descida aos infernos que então se verificou foi de tal modo profunda que de lá nunca mais consegui sair. Agora só me resta a saudade. Que é muita. A inevitabilidade da morte, pungente como sempre, aí está a impor-se. Hoje apenas te quero recordar. Recordar nos momentos felizes que tiveste, nos momentos infelizes em que te vi chorar. Hoje apenas te quero recordar como aquela que serviu de ligação para que outro ser viesse a este mundo com o objetivo talvez de... sofrer! Se foi assim, podes crer que o desígnio se cumpriu. Não tens a culpa, apenas foste a vítima, tal como eu. Neste dia, minha Mãe, apenas quero desejar-te que estejas em paz num mundo de luz que bem o mereces, enquanto eu caminharei no meu mundo pejado de sombras e escuridão que, desde essa altura à doze anos atrás, se tornou o meu desígnio. Descansa em paz, minha Mãe!

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