Equivocos da democracia portuguesa - 256
As núvens adensam-se depois de mais uma semana pejada de contos e ditos, uns verdadeiros outros nem por isso, sobre este desgraçado país que tem um (des)governo a preencher todos os seus dias, vai para dois anos. Depois de ter chegado ao governo, Passos Coelho rasgou o "memorando" que tinha sido assinado com a "troika" e reformulou-o dentro daquilo que era (é) a sua agenda ultraliberal. O que aconteceu depois já todos sabemos. Não deixa de ser curioso se compararmos os objetivos que nele estavam inseridos e aqueles que hoje temos. (Existe toda esse informação disponível na internet). Ontem ficamos a saber, e confirmar aquilo que por cá já tínhamos escrito, de que a UE e a própria Merkel não queriam que Portugal tivesse um resgate internacional. Mas de tudo isto penso que já ninguém tem dúvidas. Mas agora assistimos a mais um episódio sobre a confusão que já existe dentro da própria coligação a tocar as raias duma qualquer telenovela mexicana. As punhaladas pelas costas são mais do que muitas, o CDS/PP está cada vez mais encurralado, humilhado até, e disso se retira o que se passou no passado fim-de-semana, com um cortejo de centristas a pôr o dedo na ferida, e a falar de humilhação ao CDS e a Paulo Portas. Mesmo gente afeta aos PSD não deixaram de o afirmar, como foi o caso de Marques Mendes e até de Marcelo Rebelo de Sousa. Mas a máscara que envolveu a queda do anterior governo e a ascensão deste vai caindo aos poucos. Quanto Passos Coelho, ainda na oposição, falava em "ainda não ter chegado o tempo de ir ao pote!" - será que muitos ainda se lembram? - não se tratava apenas de retórica, como se viu a seguir, mas do maior embuste que se fez em democracia. Passados dois anos, a verdade começa a vir ao de cima. Pacheco Pereira e, sobretudo, Lobo Xavier não tiveram pejo em afirmar que "a não aprovação do PEC IV foi um erro e que se tal se tivesse verificado Portugal não estaria na situação em que está"! (vidé "Quadratura do Círculo" da SIC Notícias da semana passada). Mas não pensem que foram os únicos. O dirigente centrista Pires de Lima afirmou em entrevista à TSF e ao Diário de Notícias que "foi um erro não ter aprovado o PEC IV e que ele o tinha afirmado internamente no partido não acompanhando aqueles que defendiam a rutura". Aos poucos a verdade vai-se sabendo, nua e crua, como sempre acontece nestas coisas. Mas perguntamos: Se afinal havia tanta gente a favor do PEC IV porque é que se congregaram tantas vontades, num casamento de conveniência que envolveu a direita mais conservadora até à esquerda mais radical? Afinal que estranha maioria se formou para derrubar um governo que tinha o apoio europeu para instalar um outro que está a destruir o país todos os dias? Mas ainda falta saber uma coisa muito importante e que seria bom que viesse a lume, que é o de saber que acordo de bastidores existia, e com que força política do arco parlamentar, que levou Sócrates a ir à UE e a apresentar o PEC IV e ser felicitado por Merkel pelo acordo interno conseguido? Pouco se tem falado disto, mas o véu começa a ser levantado lentamente, sibilinamente. Será importante que os portugueses conheçam, de facto, o que se passou, e da maneira como lhes venderam ilusões que agora estamos a pagar tão caro. Temos a noção de que este governo tem os dias contados. A convocação do Conselho de Estado para hoje, parece mais aquela "brigada do reumático" que foi prenúncio do 25 de Abril de 1974! Porque falar sobre o pós-"troika", como consta da ordem de trabalhos, e não falar do que se está a passar todos os dias diante dos nossos olhos, é no mínimo, viver já fora da realidade dentro dum palácio que devia ter paredes de vidro - como é salutar em democracia - e não num "bunker" que divide o poder político do povo, povo que, ironicamente, os elegem. Abramos os olhos. Já vai sendo tempo de não nos deixarmos dividir por aqueles que fazem disso a sua arma, como no passado mais sombrio do nosso país, onde se dividia para reinar.
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