Turma Formadores Certform 66

Wednesday, May 08, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 253

Depois do regresso ontem aos mercados Portugal conseguiu colocar dívida a 10 anos pela primeira vez após o resgate. Desde logo uma boa notícia, não fosse ela dourada sem que dela fosse dada a devida explicação. Como dizia e bem Silva Lopes "é preciso saber se esta atitude é sustentável ou não". É verdade, e isso implica desde logo o colocar o dedo na ferida. Portugal foi pela primeira vez sozinho aos mercados, a operação teve um relativo sucesso, e dizemos relativo, porque ainda estamos longe duma taxa de juro que torne sustentável o assumir dos compromissos com o serviço da dívida, - e para isso o juro deverá andar nos 2 a 3% bem longe dos mais de 5% que ontem aconteceu -, mas para além disso, é necessário saber como se comportarão os mercados no futuro face a outras operações do género. O efeito psicológico é importante mas os investidores sabem que Portugal ainda está debaixo do guarda-chuva da "troika" e o risco que correm é diminuto. Para além disso, todos sabemos que a atitude do BCE desde Setembro do ano passado ao criar uma estratégia de defesa do euro, deu alguma almofada às economias da zona euro, e Portugal acabou por beneficiar dessa atitude. Não vamos entrar nessa discussão bizantina de saber de quem foi o mérito, se do governo, se do BCE. Quem segue atentamente a área da finança sabe que só uma atitude do banco central poderia alterar o rumo das coisas. A economia portuguesa é demasiado pequena e frágil para, por si só, o fazer. Penso que qualquer um entenderá isto facilmente. Mas a saúde das nossas contas públicas ainda está longe de estar acomodada. Como dizia ontem o governandor do Banco de Portugal, "ainda temos que fazer muito caminho das pedras até chegamos lá". Exatamente. Desenganem-se aqueles que pensam que a austeridade acabou ou que em Julho de 2014 a "troika" sairá e tudo correrá bem. Primeiro, a austeridade está ainda longe do fim, depois, não temos a certeza de que a "troika" saia em Julho de 2014. Pode sair dum ponto de vista formal e físico até, mas continuará sob uma forma mais subreptícia caso se venha a verifica a existência dum segundo resgate. E estamos convencidos de que a ele não escaparemos. Entre aquilo que os políticos dizem para consumo interno e a realidade, existe um enorme Rubicão que separa aquilo que se deseja daquilo que, de facto, se verifica. Gostaríamos que não fosse assim, mas aquilo que vemos leva-nos a pensar de maneira diferente, e mesmo o discurso redondo de alguns políticos deixa claro nas entrelinhas que esse será o caminho. Estamos certos de que nos encontramos à beira dum segundo resgate e que este será inevitável. Só falta saber quando. Por isso, a "festa" que o governo faz sempre que coloca uma operação financeira só adensa essa realidade. Quando se está seguro do caminho não necessitamos de tanto alarido. Portugal ainda está longe do equilíbrio que todos desejamos e as contas públicas disso dão clara nota. Para além disso, a economia está paralisada e o desemprego é cada vez maior. Só quando crescermos acima dos 2% é que conseguiremos alavancar a economia e isso acontecerá, desde logo, quando existir um abaixamento da carga fiscal para as empresas e para as famílias, potenciando a procura que induzirá a oferta e criará emprego. E isso continua a ser uma miragem, infelizmente. A espiral recessiva em que nos encontramos disso dá boa nota. Não será com boas intenções que lá chegaremos, aquelas boas intenções que se costuma dizer, o inferno está cheio. Daí o recusarmos esta visão minimalista dum Portugal aos quadradinhos. Esperemos para ver o que o futuro nos reserva, mas estamos convencidos que este nosso calvário ainda está longe do fim e a redenção tão esperada está adiada, por enquanto, "sine die".

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