Samba e futebol versus alteração de paradigma
Todos os países têm os seus ícones enquanto povo, nós não fugimos à regra e o Brasil também não. Entre nós portugueses, o Brasil era conhecido como o país do samba e do futebol. Pelo grande colorido do primeiro encimado por mulheres de grande beleza, e pelo grande talento que os artistas da bola, passeavam pelos estádio do mundo inteiro. Daí o se achar que o samba e o futebol eram as grandes molas que impulsionavam a economia brasileira e que eram o grande paliativo dos brasileiros, sobretudo dos mais pobres e carenciados, que iam aqui buscar o fôlego para enfrentar os restantes dias do ano. Contudo, algo parece estar a mudar. As últimas manifestações a que temos assistido no país irmão dão-nos a ideia de que estes ícones já não bastam aos brasileiros que foram amadurecendo e assim criando a necessidade doutros ícones que ajudem a melhorar as suas vidas. Estas manifestações acontecem não só no Brasil como fora dele, e em Portugal também, numa comunidade brasileira numerosa que povoa o nosso país. Alguns destes manifestantes apareceram no Porto onde os interpelei. (Ver foto anexa). Senti na ânsia dos mais novos de que algo mude para melhor na sua terra, e nos menos jovens a ideia de que a geração que os segue tenha melhores condições de vida num país que tem, praticamente, de tudo. Estes eram os anseios que vi, que senti, nesses muitos nossos irmãos brasileiros que ontem desceram à baixa portuense para manifestar a sua solidariedade com os seus compatriotas que se manifestam no país irmão. O mais curioso é que manifestações destas estão a acontecer um pouco por todo o mundo, na América Latina ou no Médio Oriente, em África ou na distante Oceania. Os povos começaram a ter a consciência da alteração de paradigma porque o mundo está a passar e estão a perceber que a hora é de lutar pelos seus interesses e direitos, agora e não amanhã, porque é agora que o tempo chegou, neste tempo de incerteza e de angústia em que o mundo se vê envolvido. Talvez não seja por acaso que vemos o surgimento dum Wikileaks; talvez não seja por acaso que assistimos à divulgação de certas atitudes secretas utilizadas contra este ou aquele, ou a favor dum outro, - o que vai dar ao mesmo -, como com este último escândalo das escutas imanadas dos EUA. (Escândalos a quem nem o Vaticano escapa). Não é por acaso que assistimos a uma Primavera árabe, que ainda não se sabe bem se será uma Primavera ou mais um Inverno sombrio sob outra forma; não é por acaso que vemos alguns tiranetes africanos a serem acossados nos seus privilégios e que recorrem à força mais brutal para os tentar manter. Não é por acaso que a Europa está mergulhada numa crise sem precedentes na busca dum modelo ainda indefinido embora, temporariamente, conduzido por ultraliberais que estão a conduzi-la para o abismo. O mundo está de facto em mudança! Assim, o espaço para a alienação dos povos é cada vez mais curto porque estes começaram a ter consciência de que era chegada a sua hora e não poderiam continuar a delegar nas mãos dos políticos o seu destino. Os povos já não se revêem nos políticos atuais, e isto é perfeitamente visível em Portugal. Como tal, e voltando ao que se está a passar no Brasil, o samba e o futebol já não bastam para adormecer os povos de molde a que tudo fique na mesma. Não basta ser uma economia emergente quando a redistribuição da riqueza não é equitativa. Parece chegado o momento dos grandes desígnios no mundo. Contudo, temos sempre que ter cuidado com o aproveitamento que estes legítimos anseios populares podem ter de outras forças, que subrepticiamente se infiltram com outros objetivos que muitas vezes, infelizmente, representam algo mais sinistro do que aquilo que aparentemente se contesta. Portugal tem disso grandes lições a tirar da História recente, bem como o Brasil. Mas isso não significa que nos deixemos ficar no sofá. Porque a História está a fazer-se nas ruas e é lá que as pessoas são necessárias. Vi num cartaz dum manifestante no Brasil escrito o seguinte: "O monstro acordou!" Esse grande monstro que é a força popular pode mover montanhas, mas sempre com a atenção para não se deixar esmagar por elas.
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