Equivocos da democracia portuguesa - 276
Ora agora atacou eu, ora agora atacas tu! Este pode ser o resumo do que se está a passar no nosso País nestes últimos dias. Um belisca dum lado e logo o outro, para não ficar atrás, belisca também. O fosso entre os dois maiores partidos cava-se cada vez mais e mais e a possibilidade de um entendimento - que seria benéfico para o país - fica impossível de se concretizar. E no fundo, estes dois partidos, que têm dividido a governação nestes quase 40 anos de democracia, são ambos responsáveis. Não adianta apontar o dedo ao outro porque ambos têm responsabilidades. Mas a maior de todas, foi o terem ajudado a esta promiscuidade entre o setor financeiro privado e o setor público. (Promiscuidade que tem vindo a lume com muita acutilância nos últimos tempos. Só por isso, apetece-nos dizer bem abençoada crise!) Porque era preciso proteger os seus filiados, ambos os partidos - e não só estes - criaram as condições para isso. Criaram uma espécie de Frankenstein incontrolável onde quem é controlado passa a controlar, para depois voltar ao ponto de partida. Num círculo infernal onde rodam as mesmas pessoas, os mesmos nomes, num clube de acesso restrito onde é difícil entrar sem que seja considerado um intruso. Neste carrossel de interesses, aparecem as parcerias público privadas, os "swaps", - temas hoje na moda - mas seguramente haverão outros que aparecerão na altura própria, como outros do passado como foi a reestruturação do ensino ou os solavancos do Serviço Nacional de Saúde. E ainda há quem venha falar em supervisão! Que supervisão resiste a esta teia de interesses, onde quem é controlado hoje é controlador amanhã, deixando as portas sempre escancaradas porque sabe que isso acontecerá e o seu papel se inverterá? Quem se aventura no controle de um banco que foi apoiado, e serviu de cobertura a gentes de determinado partido, que momentaneamente controlava? Quem se arrisca a voltar a trás quando sabe que um dia lhe irão também bater à porta para lhe pedir contas? Diz o povo que quem tem telhas de vidro não deve atirar pedras ao telhado do vizinho. E de facto não encontramos imagem mais adequada para aquilo que se passa neste democracia cada vez mais doente. Mas, como alguns questionam, será que ainda vivemos em democracia? Ou numa espécie de regime onde se vota de 4 em 4 anos para dar a ilusão às populações que a sua vontade ainda é escutada. Afinal quando se escolhe algo que, no essencial não deferirá muito do outro, entramos numa espiral de interesses donde é difícil sair. Quase 40 anos depois de estarmos em democracia parece que ainda não fomos capazes de sair da sua fase mais primária e infantil. Ainda nem à puberdade chegamos e a ser assim como queremos que os outros nossos parceiros, europeus ou não, ainda nos levem a sério? Quando afinal o tal famoso regresso aos mercados por nós próprios poderá não ser bem assim, como ontem o afirmava Miguel Frasquilho; que pensar da decisão de impor à Segurança Social a compra de dívida, decisão tomada por Vítor Gaspar horas antes de sair do ministério, apenas e só para camuflar o valor desta, que lá continua, que as novas gerações terão que pagar, que não desapareceu apenas por uma manobra contabilística para iludir o problema. Que pensar do "factoring" de Manuela Ferreira Leite para baixar o défice para os 3% à época? Afinal porque se discutem os "swaps" - onde se percebe que estiveram gentes dum lado e do outro envolvidas - depois de tudo isto? Apenas por guerra política que as eleições (autárquicas) estão aí e nada mais do que isso. Afinal que democracia é esta onde a corrupção e o compadrio campeiam impunes? Se é que ainda vivemos em democracia...
0 Comments:
Post a Comment
<< Home