À memória dos ausentes

Mais um ano passou! E estamos de novo a celebrar aqueles que já não estão fisicamente por cá embora sempre presentes na memória. Mais um ano passou! Decidiram que não seria feriado este ano em nome duma crise que é económica mas, sobretudo, de valores. (Embora seja o Dia de Todos os Santos, a crença popular - e talvez o feriado - transformaram no Dia de Fiéis Defuntos). Mas para quem homenageia os ausentes não precisa que seja feriado. Nem é a decisão dum qualquer governo momentâneo que vai alterar as crenças dum povo. Por isso, mesmo sem feriado, aqui estou a homenagear aqueles que há muito já povoam a minha galeria de ausentes. Gente importante na minha vida, gente que me ajudou a ir mais além, gente que me deu o ser, gente que me educou, gente que me amou. Hoje é o vosso dia e cumpre-me aqui fazer a homenagem. Trazer do país das sombras a memória desta gente, gente simples, como simples são as gentes do povo, mas gente com visão que queria que a nova geração tivesse acesso a algo mais que eles tiveram quando por cá passaram. A eles todos, sem exceção quero aqui prestar a minha homenagem. Porque todos foram importantes. Porque todos, - cada um à sua maneira -, quiseram fazer o melhor, quiseram fazer de mim um ser melhor. Não sei se o conseguiram, mas esforço-me diariamente por ser melhor em homenagem a todos estes ausentes a quem devo tudo. Desde logo o ser, depois a educação, a formação, alicerces básicos para que sejamos gente, gente melhor. Ensinaram-me a andar, ensinaram-me as primeiras palavras, as primeiras letras, depois o ser solidário com o outro ao meu lado que por vezes sofre sem que demos por isso. Logo de seguida o amor incondicional pelos animais nossos irmãos sofredores às mãos da tirania do homem. Daquele homem que não teve quem lhe ensinasse a ser melhor, a ser diferente. Depois o amor pela natureza e pelo que nela se encerra. A natureza que dá cor e alegria às nossas vidas e que, amiúde, ignoramos, espezinhamos. Por tudo isto vos agradeço. Por tudo isto me curvo perante a vossa memória. Vós fostes o princípio do que veio a seguir. Não sei se foi bom ou mau. Esforço-me, diariamente, para que tenha valido a pena tudo o que vós fizestes por mim. É a minha maneira de vos homenagear. Não de vos recordar porque a recordação, a memória, essa está sempre comigo quando me levanto e me acompanha quando me deito. Porque o amor é assim. O verdadeiro amor. Esse amor incondicional que me ajudou a ser aquilo que sou. Este é o vosso dia, embora sem feriado. Mas que importa isso. Eu estou aqui presente como sempre, fiel às memórias, fiel a vós. Vós que me ensinaste o conceito de família. Vós todos sois eu, e eu sou vós. Unos um nos outros. No fundo, todos somos um, todos somos unos, embora não o consigamos perceber, não o consigamos percecionar. Hoje estou aqui, como sempre, a prestar a minha singela homenagem a vós. Vós que fostes, vós que sois, a razão do meu ser.