Turma Formadores Certform 66

Friday, June 06, 2014

O BCE tenta controlar o perigo duma deflação

Ontem assistimos a algo de muito importante que talvez tenha passado ao lado de muitos. O Banco Central Europeu (BCE), pela voz do seu presidente Mario Draghi, anunciou o abaixamento da sua taxa diretora para 0,15%. E isso que significa, perguntarão alguns. Desde logo, um importante sinal para a economia. É que paralelamente a esta decisão, o BCE baixou as taxas de juro para valores negativos, fixando-a em -0,10%. Isto significa que os bancos para manterem o seu dinheiro parado sobre a proteção do BCE ainda têm que pagar para lá o ter. O que levará a que os bancos firmem esses depósitos noutros congéneres ou então, - e é isso que se espera -, que lancem o dinheiro na economia para apoio às empresas e aos particulares de modo a potenciar o consumo e o investimento. Claro que os bancos podem sempre reverter estas situações para os seus clientes, e até já existem sinais de que tal já começou a acontecer, sobretudo ao nível dos "spreads". A estratégia do BCE tem ainda maior alcance quando dela deriva que chegando liquidez às famílias estas comecem a ativar mais o circuito económico estimulando assim um aumento da inflação que tem estado a níveis perigosamente baixos, para a fixar nos 2%, embora aja quem pense que é insuficiente e que tal valor deveria ir para o dobro, ou seja, 4%. (Dentro dos adeptos deste valor está o antigo Prémio Nobel da Economia Paul Krugman, pensando que assim se atingirá a retoma mais cedo e duma forma mais definitiva). E dirão alguns porque é que o BCE tanto tem defendido a baixa inflação e agora dá sinais de a quer aumentar. A razão é simples e simultaneamente preocupante para a Europa. É que paira sobre todos nós a possibilidade duma deflação que muito se tem debatido nos segredo dos gabinetes e que não tem transparecido para o público em geral porque se considera tratar de algo que pode ser muito difícil de gerir com o seu cortejo de graves problemas à economia que se repercutirão sobre nós duma forma terrível. Mas expliquemos o que é a deflação para os que não conhecem o conceito. Imaginemos um país onde a partir de determinada altura os preços começam a baixar. O que acontece é que ninguém compra porque está sempre à espera de que eles baixem ainda mais. Logo se os consumidores não compram, as empesas não produzem e como a sua produção é mais baixa à que libertar mão-de-obra excedente, o que levará a um aumento terrível do desemprego. Como há mais desemprego, logo há menos consumo e o ciclo recomeça de novo, vicioso, cada vez mais apertado e demolidor. Assim, e nesta lógica o BCE com as medidas que ontem anunciou, está a tentar travar a baixa inflação e assim evitar a temível deflação dentro daquilo que se costuma chamar de "armadilha da liquidez". Só para terem uma ideia do que um efeito deflacionista tem sobre os países, fiquem a saber que o Japão só o ano passado saiu deste ciclo infernal que durou quinze anos! Esta é uma situação que é muito grave, que paira há demasiado sobre a zona euro e que tem estado arredada das conversas públicas para não criar alarmismo que conduziria esta questão num sentido que seria difícil controlar. Assim, achamos que as medidas que ontem o BCE anunciou são interessantes e só esperamos que surtam o efeito desejado. Na nossa modesta opinião, apenas pecam por tardias.

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