Equivocos da democracia portuguesa - 338
Na nossa muita especial democracia já nos fomos apercebendo de situações insólitas que em nada contribuem para a boa imagem do regime. Mas quando pensávamos que já tínhamos visto tudo, estávamos profundamente enganados. No rescaldo das eleições europeias - onde todos são vencedores como já é hábito entre nós - não nos passaria pela cabeça que quem as ganhou de facto se viesse a ver confrontado com um seu colega de partido. Referi-mo-nos aos dois Antónios, o Seguro e o Costa. E aqui a originalidade, mais uma vez, do nosso regime não deixa de ser interessante. O António (secretário-geral) que ganhou até parece que perdeu depois dos arremedos do António (que pretende vir a ser líder do PS). Pensamos que nunca tal aconteceu no mundo - pelo menos no democrático e civilizado - e, seguramente, tal nunca aconteceu no Portugal democrático. O insólito da situação não pode ser ocultado face a tal despudor. Sabemos que os partidos são locais de disputa política mas isso não é compaginável com a situação duma disputa fratricida que ocultou a pesada derrota da direita, - até a vindo a amenizar e a passar para segundo plano -, mas essencialmente porque tal está a enfraquecer o PS para as futuras eleições legislativas que estão a pouco mais de um ano, ou talvez menos, - porque achamos que estas até serão antecipadas face ao calendário político de 2015. Mas se está a pedir a um líder vencedor que se demita depois de ter ganho duas eleições em cerca de oito meses, também não é bonito vermos quem, ocultando-se atrás da defesa dos país, apenas quer legitimar outro tipo de interesses de índole pessoal. E aqui o PS está apanhado numa verdadeira tenaz. Se o líder se refugiar nos estatutos - que o secretário- geral blindou quando foi eleito - está a enfraquecer a sua posição, mas se ceder, isso vai significar que as regras e os estatutos de nada servem nesse partido, podendo mesmo ser rasgados e atirados para o caixote do lixo da História. Enquanto a situação não se clarifica, a tenaz vai-se apertando, e a alternativa ao atual governo está fraca aos olhos dos portugueses. O partido dividido. As espingardas estão a ser contadas. O único partido que representa, quer se queira quer não, a única alternativa ao atual governo corre o risco de deixar de ser alternativa, ajudando a legitimar um poder caduco, já rejeitado nas urnas por duas vezes, e que só consegue escamotear o seu desaire pela ambição de outros que estão mais preocupados consigo próprios do que com o país e que desviaram o eixo da discussão para outro tabuleiro. (Isto não quer dizer que nos revejamos no atual líder do PS, mas também não gostamos daqueles que utilizam o método da faca pelas costas como solução para os problemas. Como já aqui dissemos por variegadas vezes, em política não pode valer tudo). Algo de muito estranho se está a passar nesta original democracia. Não sabemos se o potestativo candidato a secretário-geral está a fazer o jogo da direita, ou a soldo da mesma, mas que está a fraturar o partido numa altura fundamental disso não existem dúvidas. E o mais grave, é que corre o risco de deixar o eleitorado sem alternativas (credíveis) à governação ultraliberal que nos esmaga dia após dia.
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