Mais um 1º de Maio
Mais um 1º de Maio se celebra. Aqui como em todo o mundo livre, esta é uma jornada em que os trabalhadores celebram o seu dia e os direitos conquistados. Contudo por cá as coisas são menos prosaicas. Para além das diferenças de partido ou outros credos sejam lá eles quais forem, o 1º de Maio levará, seguramente, muita gente à rua. (Trabalhadores e não só porque a miséria atinge a maioria). Já não tanto para homenagear as trabalhadoras massacradas em Chicago no século passado, mas tão só, porque as agruras da vida a isso as impelirá. São os cortes nos salários, pensões e reformas, é a degradação do nível de vida que cada dia assume valores mais preocupantes, é a escola pública cada vez mais substituída pela privada onde nem todos têm acesso, é o SNS a fornecer cada vez menos saúde, onde até os medicamentos já vão faltando, que vai sendo transferida paulatinamente para as clínicas caras que a iniciativa privada vai criando como cogumelos. Enfim, é a destruição duma classe média que já não existe depauperada a esmo sem critério e sem racionalidade. E apesar disso, é a dívida que não para de crescer, é o desemprego que só diminui fruto da imigração, é a desesperança que se instala. Onde a fome começa a aparecer já não há espaço para a razão. Virão seguramente muitos à rua porque só a rua é ainda o espaço de liberdade. Onde o grito de revolta será mais uma vez inconsequente mas o simples facto de o ainda poderem dar será um alívio para a tensão acumulada. Mas isso por si só não chegará. Quando nos acenam para termos paciência porque a "troika" vai embora dentro de dias, apenas nos estão a dizer uma tremenda mentira. Continuaremos agrilhoados por várias décadas sem apelo e sem agravo. Por mais que nos falem em saída "limpa" ou programa cautelar, - parece que vai ser "limpa" não porque estejamos bem mas porque os credores não estão disposta a isso -, que nos importa essa discussão bizantina quando de facto não haverá saída nenhuma. Os credores continuarão por cá, mais espaçadamente, sem grande visibilidade, mas estarão por cá atentos e impondo as regras do seu jogo. Virão muitos seguramente à rua porque nada mais podem fazer do que vir à rua, gritar, exorcizar os seus fantasmas, regressarão mais aliviados a casa mas tudo continuará na mesma, ou seja, na "apagada e vil tristeza" em que se tornou estes nossos dias de ira. Por muitas décadas, por várias gerações ainda.
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