Turma Formadores Certform 66

Wednesday, April 16, 2014

Hoje encontrei o seu cão

Nesta quadra pascal que estamos a viver nunca é demais lembrar os animais sofredores que são desprezados pela ignomínia humana. Desde logo, aqueles que nesta quadra são sacrificados para alimentar a gula de muitos de nós. Daí que, sempre pensando nos animais que tanto amo, vos trouxe aqui um artigo de autor anónimo, que fala dum cão, um cão de alguém que o abandonou ou que, simplesmente, se desinteressou dele. O texto diz assim: 
 
"HOJE ENCONTREI O SEU CÃO

Não, ele não foi adoptado por ninguém. Aqui, a maioria das pessoas já têm vários cães; e aqueles que não têm nenhum, simplesmente não querem um cão. Eu sei que você esperava que ele encontrasse um bom lar quando o deixou aqui, mas ele não encontrou. Quando o vi pela primeira vez, ele estava bem longe da casa mais próxima e estava sozinho, com sede, magro e coxeava por cau...sa de um ferimento na pata.

Eu queria tanto ser você naquele momento em que parei na frente dele. Para ver a sua cauda abanando e os seus olhos brilhando ao pular nos seus braços, pois ele sabia que você o iria encontrar, sabia que você não se esqueceria dele. Para ver o perdão nos seus olhos pelo sofrimento e pela dor pelos quais ele havia passado na sua jornada sem fim à sua procura... Mas eu não era você. E, apesar das minhas tentativas para o convencer a aproximar-se, os seus olhos viam um estranho. Ele não confiava em mim e por isso não se aproximava.

Em vez disso, virou as costas e seguiu o seu caminho, pois tinha a certeza que esse caminho o levaria a você. Ele não entende que você não está à procura dele. Ele só sabe que você não está lá, sabe apenas que precisa de o encontrar. Isso é mais importante do que a comida, a água ou o estranho que lhe pode dar todas essas coisas. Percebi que seria inútil tentar persuadi-lo ou segui-lo. Eu nem o seu nome sei. Fui para casa, enchi um balde de água e uma vasilha de comida e voltei ao lugar onde o tinha encontrado. Não havia sinal dele, mas deixei a água e a comida debaixo da árvore onde ele tinha buscado abrigo do sol e um pouco de descanso.

Veja bem, ele não é um cão selvagem. Ao domesticá-lo, você tirou-lhe o instinto de sobrevivência nas ruas. Ele só sabe que precisa de caminhar o dia todo. Ele não sabe que o sol e o calor podem custar-lhe a vida. Ele só sabe que precisa de o encontrar.

Aguardei na esperança de que ele voltasse para buscar abrigo sob a mesma árvore, na esperança de que a água e a comida que tinha trazido fizessem com que ele confiasse em mim e eu pudesse levá-lo para casa, e tratar da sua pata ferida, dar-lhe um canto fresco para se deitar e ajudá-lo a entender que você já não fazia parte da sua vida. Ele não voltou naquela manhã e, quando a noite caiu, a água e a comida permaneciam intactas.

Fiquei preocupado. Você deve saber que poucas seriam as pessoas que tentariam ajudar o seu cão. Algumas enxotá-lo-iam, outras chamariam o pessoal do canil que lhe daria o destino do qual você achou que o estava salvando - depois de dias de sofrimento sem água ou comida. Voltei ao local antes do anoitecer. Não o encontrei.

Na manhã seguinte voltei, e vi que a água e a comida permaneciam intactas. Ah, se você estivesse aqui para chamar o seu nome! A sua voz é tão familiar para ele. Sem muita esperança, comecei a andar na direcção que ele tinha tomado ontem. Ele estava tão desesperado para o encontrar que seria capaz de caminhar muitos quilómetros em menos de um dia.

Algumas horas mais tarde, a uma boa distância do local onde eu o tinha visto pela primeira vez, finalmente encontrei o seu cão. A sede não o atormentava mais, a sua fome tinha desaparecido e as suas dores haviam passado. O ferimento da pata já não o incomodava mais. Agora o seu cão estava finalmente livre de todo esse sofrimento.

O seu cão morreu.

Ajoelhei-me ao lado dele e amaldiçoei-o a si por não estar aqui ontem para que eu pudesse ver o brilho, por um instante sequer, naqueles olhos vazios. Rezei, pedindo que a sua jornada o tivesse levado àquele lugar que você esperava que ele encontrasse. Se você soubesse por quanta coisa ele passou para chegar lá... E eu sofro, pois sei que, se ele acordasse agora, e se eu fosse você, os seus olhos brilhariam ao reconhecê-lo, e ele abanaria a sua cauda, perdoando-o por tê-lo abandonado.

(Autor desconhecido)"
 
Nesta altura pascal, altura para a reflexão e perdão, devemos refletir sobre o texto acima e dele tirar as necessárias ilações. Para além dos animais sacrificados para termos na mesa, para além das doçarias da época, deve haver tempo também para a introspeção e reflexão. Afinal, segundo dizem, é isso que nos diferencia dos outros animais. Embora por aquilo que vejo cada vez tenho mais dúvidas de que assim seja.

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