Equivocos da democracia portuguesa - 334
À medida que o período de vigência da "troika" se aproxima, vai-nos sendo dada uma visão idílica do país. Coisa mais errada que nem a proximidade de eleições faz justificar. O país está pior, bem pior, do que muitos portugueses julgam, com mazelas que se foram criando e que motivam uma situação em muitos aspetos bem mais complicada do que a que tínhamos há 3 anos atrás. É preciso que isto seja entendido por mais que doa a alguns. Obviamente que dos políticos da governação nunca tal ouviremos. Estas conjeturas ficam para os bastidores bem longe dos ouvidos dos "media" e dos portugueses. Embora aqui e além alguns membros próximos do atual executivo não deixem de passar algumas ideias que mostram bem o incómodo do que se está a viver em Portugal. Uma dessas pessoas é António Lobo Xavier, - um homem conotado com o CDS -, que no último programa da "Quadratura do Círculo" da SIC não deixou de dizer esta coisa extraordinária: "A discussão do salário mínimo por parte do PM é uma medida claramente eleitoralista". Assim, preto no branco sem sequer passar pelo cinzento. Um PM que há uns meses dizia que aumentar o salário mínimo era um erro como pode ser levado a sério agora? Já para não falar na agenda escondida - que já é habitual neste executivo - de adiar para depois das eleições as medidas difíceis que serão claramente anticonstitucionais na nossa opinião, como a de transformar os cortes das pensões e reformas em definitivos depois de os ter considerado provisórios e que estão inseridos no DEO. (E quando diz que vai revelar algumas medidas antes da eleições europeias, não o faz por coragem como insinua, mas sim, por obrigação do calendário da "troika"). É certo que o PM já percebeu o erro que cometeu ao aniquilar os projetos macroeconómicos agendados que serviram / servem para atrasar ainda mais o passo de Portugal face aos seus parceiros europeus. Visão há muito defendida pelo seu ministro da economia, Pires de Lima. Sem grandes projetos não se poderá potenciar o emprego e o crescimento económico. Já Keynes o dizia e nunca foi PM. Por outro lado, o finlandês Ohli Rehn, já veio afirmar que o seu governo está a impor condições tais para ajudar num programa cautelar a Portugal que, na prática, tem como efeito imediato o empurrar Portugal para uma saída "limpa". Claro que, e caso tal se venha a verificar, o PM virá dizer que assim é porque o país afinal está bem (embora os portugueses estejam mal!) mas isso é culpa dos portugueses e não da política seguida. Portas virá afirmar que sempre defendeu tal e tudo fez - não fosse ele o "caixeiro viajante" das empresas - para que tal acontecesse. Contudo, e mais uma vez olhamos para as palavras de Ohli Rehn, "o melhor para Portugal será um programa cautelar". (A nossa opinião diverge aqui da de Rhen mas nada tem a ver com a estratégia seguida para o país ter sido a mais correta). Mas ainda temos o "Outlook" do FMI para 2014 e projeção para 2015 que mostra à evidência a fragilidade da economia portuguesa que tem um crescimento pouco mais do que marginal, com um desemprego situado nos mais de 15% que corre o risco de se tornar estrutural, e com uma dívida impagável que, - e recorremos de novo ao documento do FMI -, só se reduzirá para 60% do PIB em 2030 mas com um esforço tal que torna quase impossível o seu pagamento. As preocupações do FMI são grandes e claras para nos fazer pensar a todos sobre a verdadeira situação em que o país se encontra. E ainda por cima temos o "rating" do país. As agências não o vão mudar de um dia para o outro. E o basearmo-nos numa pequena agência canadiana não basta. E no meio de tanto engano, de se falar com pouca clareza e transparência a todos nós, já nada nos pode surpreender. Assim, o vermos um secretário de Estado que fala de mais e que depois na AR se acha um romano a seguir o seu César, - mesmo recorrendo ao latim -, apenas merece o esboçar dum sorriso de condescendência. E como se tudo isto não bastasse, ainda se perfila no horizonte um cenário cada vez mais provável de deflação, algo de que raramente se fala, pelo menos em público. Com a inflação a cair 0,2% este é o cenário mais provável, embora o INE ainda não fale dele. Contudo, é o próprio INE que no seu boletim e Março alerta: "Em março de 2014, a variação homóloga do IPC situou-se em -0,4%, taxa inferior em 0,3 pontos percentuais (p.p.) à observada no mês anterior. O indicador de inflação subjacente, medido pelo índice total excluindo produtos alimentares não transformados e energéticos, registou uma taxa de variação homóloga de -0,2%, inferior em 0,3 p.p. à verificada no mês anterior. O IPC apresentou uma variação mensal de 1,4% (-0,3% em fevereiro de 2014 e 1,7% em março de 2013). A variação média dos últimos doze meses situou-se em 0,2%, inferior em 0,1 p.p. à observada no mês anterior. O Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC) português registou uma taxa de variação homóloga de -0,4% (-0,1% em fevereiro de 2014), inferior em 0,9 p.p. à estimada pelo Eurostat para a área do Euro (inferior em 0,8 p.p. no mês anterior). A taxa de variação mensal do IHPC situou-se em 1,4% e a taxa de variação média dos últimos doze meses foi 0,3%." É caso para dizer que uma desgraça nunca vem só. E ainda haverá alguém que ache que estamos melhor? Será bom que todos nós tenhamos consciência do que se está a passar entre nós. A dependência do país não terminará com a saída da "troika" mas prolongar-se-á ainda por muitos anos, por muitas décadas. E não no deixemos iludir pelo canto da sereia. Até por ele conduz sempre à morte de quem o ouve.
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