Turma Formadores Certform 66

Monday, April 14, 2014

Equivocos da democracia portuguesa - 335

A poucos dias de se comemorar os 40 anos do 25 de Abril de 1974 assistimos ao impensável. Durão Barroso, o ainda presidente da Comissão Europeia, não se coibiu de fazer rasgados elogios ao ensino ministrado no tempo do Estado Novo! Quando a ditadura fazia do ensino - bem como de outras coisas - as laudas ao regime e ao ditador (basta ver os livros escolares da época) vem Durão Barroso defender esse modelo como aquele que está cheio de virtudes face ao que temos atualmente. Talvez muitos não saibam que Durão Barroso foi militante do MRPP - Movimento Revolucionário do Partido Proletário, um movimento de extrema-esquerda que lutou contra o regime da ditadura vendo muitos dos seus militantes presos, torturados e até assassinados como aconteceu a um jovem estudante morto em pleno Instituto Superior Técnico de seu nome Ribeiro dos Santos quando participava num plenário de estudantes. Num ensino de castas, como era o ensino no Estado Novo, onde apenas os que tinham posses podiam ver os seus filhos a estudar, numa altura em que a perseguição se abatia sobre estudantes e professores, parece desmesurado que um político, - ex-comunista de extrema-esquerda -, venha tecer elogios ao ensino da ditadura. Isto leva-nos a pensar em duas coisas que são preocupantes: a primeira, ver como a política europeia é dirigida por políticos que vêm no modelo fascista todas as virtudes; e, em segundo, visto Durão Barroso estar ligado a um dos partidos da coligação que agora nos governa, podemos inferir como esse partido, ou a sua estrutura dirigente no momento, encara a política. A sobranceria, o desprezo pelas gentes, uma certa forma autocrática de governar, o confrontar as instituições - desde logo o Tribunal Constitucional -, dizem bem da matriz destes governantes e do que pensam para o futuro de Portugal. A teoria do "ai, aguentam, aguentam!" já vem de Salazar, que pelos visto, tem nos atuais líderes que ocupam neste momento os corredores do poder, muitos simpatizantes. Diz-se que os extremos se tocam e, pelos vistos, isso é a mais profunda das verdades. 40 anos depois do retorno à democracia estávamos bem longe de se quer imaginar que algum político responsável, ainda em funções na União Europeia fosse capaz de afirmar uma coisa destas. É preciso que os portugueses não esqueçam, sobretudo, quando há uma sondagem publicada pelo jornal i que dá conta de que a maioria dos portugueses acha os atuais políticos mais desonestos do que os do Estado Novo. Caminho perigoso está a trilhar Portugal e desde logo a Europa. Talvez por isso, vimos Durão Barroso vir fazer uma conferência (dita "europeia" onde ninguém pode falar a não ser os que apoiam a governação atual) que não foi mais do que uma campanha política a favor do PSD para as europeias. Métodos estranhos à democracia. Mas para quem tem tanta admiração sobre a ditadura isso fará alguma diferença?

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