Turma Formadores Certform 66

Saturday, April 26, 2014

Paradoxos - George Carlin

Mais uma vez, nestes tempos de ira que são os nossos, gostava de vos trazer um texto para reflexão. Num tempo em que diariamente se ora ao deus do efémero, numa altura em que a desesperança invade cada um, é sempre importante pararmos um pouco para pensar sobre aquilo que nos rodeia e, se possível, conseguir separar o trigo do joio, ou seja, aquilo que de facto é importante, face ao que, embora nos parecendo importante, não deixa de ser verdadeiramente efémero. Nestes dias de desencanto é sempre bom termos algo para nos agarrar e refletir. Por isso, vos trago aqui hoje este texto, que muito me impressionou a quando da sua leitura. Diz assim: "O paradoxo do nosso tempo é que temos edifícios mais altos e temperamentos mais reduzidos; estradas mais largas e pontos de vista mais estreitos. Gastamos mais, mas temos menos; compramos mais, mas desfrutamos menos. Temos casas maiores e famílias mais pequenas; mais conforto e menos tempo. Temos mais graduações académicas, mas menos sentimentos comuns; maior conhecimento, mas menor capacidade de julgamento. Mais peritos, mas mais problemas; melhor medicina, mas menor bem-estar. Bebemos demasiado, fumamos demasiado, desperdiçamos demasiado, rimos muito e irritámo-nos demasiado. Mantemo-nos muito tempo acordados, acordamos cansados, lemos muito pouco, vemos televisão em demasia e oramos raramente. Multiplicamos o nosso património, mas reduzimos os nossos valores. Falamos demasiado, amamos demasiado pouco e odiamos muito frequentemente. Aprendemos a ganhar a vida, mas não a vivê-la. Adicionamos anos às nossas vidas, não vidas aos nossos anos. Conseguimos ir à lua e voltar, mas temos dificuldade em atravessar a rua para conhecer um novo vizinho. Conquistamos o espaço exterior, mas não o interior; temos feito grandes coisas, mas nem por isso as melhores. Conquistamos o átomo, mas não os nossos preconceitos. Aprendemos a apressar-nos, mas não a esperar. Produzimos computadores que podem processar maior informação e difundi-la, mas comunicamos cada vez menos. Estamos no tempo das comidas rápidas e digestões lentas, de homens de grande estatura e de pequeno caráter, de enormes ganhos económicos e relações humanas superficiais. Hoje em dia, há dois ordenados, mas mais divórcios; casas mais luxuosas, mas lares desfeitos. São tempos de viagens rápidas, fraldas descartáveis, moral descartável, encontros de uma noite, corpos obesos, e pílulas que fazem tudo desde alegrar e acalmar, até matar. São tempos em que há muito na montra e muito pouco no armazém. Lembra-te de passar algum tempo com os teus entes queridos, porque eles não estarão aqui para sempre. Lembra-te de abraçar quem está perto de ti, porque esse é o único tesouro que podes dar com o coração, sem que te custe um cêntimo. Lembra-te de dizer "amo-te" ao teu companheiro e aos teus seres queridos, mas, sobretudo, di-lo com sinceridade. Um beijo e um abraço podem curar uma ferida, quando se dão com toda a alma. Dedica tempo para amar e para conversar. E nunca esqueças que a vida não se mede pelo número de vezes que respiramos, mas por aquilo que se Ama." Seria bom que deixássemos as portas, que este texto abre, bem escancaradas. Que pensemos sobre ele com os olhos distantes de quem está de fora das situações. Penso que só assim, poderemos tirar todos os ensinamentos que ele encerra.

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