Portugal entre os mais vuneráveis à deflação
O Royal Bank of Scotland aponta seis economias periféricas da zona euro com uma mais alta vulnerabilidade a uma dinâmica de quebra de preços, com Portugal acima de 50%. A euforia em torno da descida significativa das yields das obrigações soberanas dos periféricos da zona euro tem ofuscado o processo de desinflação (descida continuada da taxa de inflação desde o Verão de 2013) e o risco de deflação ou inflação negativa na zona euro. Deflação é a quebra de preços provocando o aumento real do valor da dívida e reduzindo as receitas da economia real agravando a crise da dívida e gerando risco de estagnação económica prolongada. O Royal Bank of Scotland (RBS) divulgou esta semana um indicador de "vulnerabilidade à deflação" na zona euro em que sobressaem seis economias periféricas. Com uma vulnerabilidade de 50% ou mais encontram-se Espanha (com 80%), Irlanda (64%), Holanda (55%), Portugal (52%), Áustria (50%) e Itália (50%). Com uma vulnerabilidade entre 40 e 50% situam-se Grécia, França, Bélgica e Finlândia. Segundo os dados para Março, divulgados pelo Eurostat esta semana, oito economias da União Europeia integram o clube da deflação, cinco das quais membros do euro, incluindo Portugal (-0,4%) e Espanha (-0,2%). A Grécia atravessa a situação mais grave na zona euro (uma deflação anual de -1,5%). A dinâmica global na zona euro de descida da taxa de inflação é motivada principalmente hoje em dia por uma "desinflação importada" (em virtude da valorização excessiva do euro, que está 4,5% acima da média histórica na taxa de câmbio nominal do euro face a um cabaz de 20 divisas dos seus principais parceiros comerciais) e pelo impacto da "desvalorização interna" provocada pelos processos de consolidação orçamental e das designadas reformas estruturais que pressionam em baixa preços e salários. Os economistas e analistas dividem-se entre os que consideram esse processo como "desinflação benigna" e os que falam de um novo risco grave na atual "cauda" da crise iniciada em 2008. O Fundo Monetário Internacional é uma das instituições que alerta contra este risco (falando de uma probabilidade de 20% da zona euro cair globalmente em deflação no final de 2014) e o Banco Central Europeu tem dado mostras de preocupação crescente com o assunto, a ponto de se falar de uma tomada de medidas não convencionais mais agressivas de política monetária ainda este ano. O problema da deflação é, contudo, mais complexo do que as tendências conjunturais que têm sido assinaladas. Há tendências estruturais, de longo prazo, de impacto deflacionista derivadas da revolução tecnológica dos últimos 30 anos, da demografia com o envelhecimento populacional (provocando contração do consumo, segundo muitos economistas), e da crescente dicotomia entre preços dos produtos e serviços da economia real (que sofrem pressões deflacionistas) e preços dos ativos financeiros (que sofrem pressões inflacionistas derivadas de "bolhas" especulativas que se têm sucedido).
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