Turma Formadores Certform 66

Sunday, May 04, 2014

Equivocos da democracia portuguesa - 337

A semana passada terminou duma forma extraordinária. Quem não soubesse até pensaria que estava a viver o dia das mentiras. Falou-se da saída da "troika", embora os credores institucionais continuem por cá ainda durante muito tempo - até pagarmos 75% da dívida que, seguramente, vai levar muitos anos - com as suas visitas semestrais para se inteirarem do que estamos a fazer; falou-se de juros mais baixos que, embora sendo verdade, é apenas uma parte da verdade, visto estarmos muito assentes em mercados internacionais que ao mais pequeno deslize - de Portugal ou da UE - se alterarão fortemente; falou-se da criação de muitos milhares de postos de trabalho, quando a realidade mostra que o desemprego entre os jovens continua a aumentar e o "ratio" total está inquinado pelo elevado índice de emigração - não esquecer que quando se fala de emprego devemos sempre analisar a criação de emprego líquido como em tempo oportuno aqui fizemos referência -; falou-se em saída limpa quando na verdade tal não corresponde à situação do país, mas sim, à recusa dos outros países em apoiar um programa cautelar, liderados pelos países nórdicos, em especial a Finlândia - o mesmo já tinha acontecido com a Irlanda - daí que não seja verdadeiro o dizer-se que Portugal não o consegue negociar fruto da pré-campanha para as eleições europeias, coisa que o caso que envolveu a Irlanda desmente em toda a linha; depois falou-se que o aumento do IVA afinal não era um aumento de impostos - já tínhamos ouvido isso há alguns anos atrás pela boca dum outro ministro das finanças da mesma família política, - Braga de Macedo -, que aumentou o dito imposto de 16 para 17% e durante uma semana andou a dizer que isso não significava um aumento de impostos. (Parece que estes "lapsos" são congénitos a determinados elementos da mesma família política, uma espécie de vírus que se pega rapidamente). Depois de tanta mentira, de tanta ilusão, de tanto subterfúgio criado para com os portugueses, que restará ainda? O ministro da economia - Pires de Lima (CDS/PP) - afirmava que os impostos deveriam baixar, afinal aumentaram. Dizia há dias, um conhecido eurodeputado europeu do CDS/PP - Diogo Feio - que ainda levaria ainda alguns anos para que Portugal estivesse em linha com o crescimento que se verificava em 2011, isto é, quando este governo tomou posse! Coisa extraordinária, é ver um centrista afirmar tal coisa. Mas tenham cuidado com as palavras. Ele não disse que iríamos atingir esse índice de crescimento, mas sim, que estaríamos em linha com essa tendência porque quanto ao mesmo índice de crescimento é uma outra coisa que levará muito mais tempo. Na semana passada, no programa da SIC - "Quadratura do Círculo" - um destacado elemento do PSD - Pacheco Pereira - afirmava que a palavra do primeiro-ministro e do governo "já nada contava para os portugueses". Acusava os seus correligionários políticos de mentirem descaradamente e sem despudor - "parece que já perderam a vergonha" - contrariando dias depois, aquilo que tinham afirmado com convicção dias antes. Para exemplificar, Pacheco Pereira dizia que nem iria muito para trás, apenas lhe interessavam os últimos quinze dias, - porque se fosse mais para trás ainda seria pior - comparando o que durante esse tempo foi dito e aquilo que o DEO (Documento de Estratégia Orçamental) viria a consagrar. De tudo isto que fica? Apenas que enquanto o governo sorteia carros topo de gama todas as semanas os portugueses com os seus salários vão pagando tudo isso. A TSU que afinal não ia aumentar mas aumentou. (Como se sentirá o "irrevogável" Portas perante isto?) Os cortes nas pensões e reformas que eram temporários afinal tornaram-se definitivos. Estes são novos encargos que servem para sustentar o alívio aos funcionários públicos. A isenção da taxa extraordinária dentro de dois anos, que faz com que as reformas mais elevadas - e só essas - sejam, de facto, abrangidas, como acontece com Cavaco Silva que vai recuperar 2200 euros de pensão com estas medidas. (Ver JN online de sábado). De tudo isto que resta? Um país destruído, uma classe média inexistente, o nivelamento por baixo de salários, os reformados e pensionistas espoliados numa fase da vida em que não têm hipótese para reagir ou sequer se adaptar, um país pobre humilhado e ofendido pelo seus. Um país enfim, mais pobre e assimétrico. De todas estas mentiras, de todos estes paradoxos, apenas restam as palavras de Pacheco Pereira: "Já não confio em nada do que eles dizem. Mentem sem despudor e sem vergonha".

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