"Novo Banco", velhos problemas
Estou a escrever poucas horas depois do anúncio do governador do Banco de Portugal (BdP) sobre o caso do Banco Espírito Santo (BES). E a primeira reflexão que aqui quero deixar prende-se com isto mesmo. Não deixou de ser estranho que uma comunicação desta relevância tenha sido feita pelo responsável máximo do BdP e não pelo primeiro-ministro (PM) ou a ministra das finanças, como aconteceu, por exemplo, no passado recente a quando do caso BPN. O PM parece que se refugiou no Algarve a banhos, e a ministra parece que desapareceu. (Enfim, coisas que o tempo haverá de esclarecer no futuro). Sobre a comunicação do governador, parece que muito pouco se ouviu de novo, depois do "pregoeiro" do governo Marques Mendes, já ter dito quase tudo na sexta-feira passada. (Estranha maneira também de comunicar as decisões que o governo vem adotando). Não só o governo não as fez como as endereçou a um comentador. Coisas curiosas desta nossa aparente democracia. Ficamos ontem a saber - ou melhor, já sabíamos desde sexta-feira última - que o BES vai ser partido em dois, um banco bom a que se irá chamar Novo Banco, e um banco mau. No primeiro ficarão os depósitos como toda a clientela do antigo BES, no segundo ficarão os produtos tóxicos entre eles o BES Angola ao que parece. Este último será suportado pelos acionistas, quer os da família, quer os outros pequenos acionistas que foram ao aumento de capital e que perderão quase tudo. Aqui chegados, convém refletir sobre isto, porque se concordamos com a atitude dos grandes acionistas serem penalizados, já quanto aos pequenos temos algumas dúvidas. Porque estes foram ao aumento de capital talvez iludidos por uma aparente estabilidade que o próprio BdP assegurou dias antes sobre a solvência do BES. Quanto ao Novo Banco não deixa de ser preocupante a maneira como as coisas parecem irem ser feitas. Numa operação complexa que aqui me escuso a descrever, (apenas me referirei ao essencial), verifica-se que esta nova entidade bancária vai necessitar de 4 mil milhões de euros para arrancar recapitalizado, verba que vai sair do fundo de resolução que vai contar com apoios da UE e da "troika", mas também do próprio Estado. E aqui é que se coloca, desde logo, um grande problema. Embora estes fundos sejam emprestados a juros enormes, na casa dos 7, 8 ou mesmo 9%, - o que será um aparente bom negócio para o Estado -, não deixa de causar mossa nas contas públicas, o que levanta o problema de como se irá compensar isso. E o mais normal será serem financiados por todos nós, como habitualmente, sob a forma de impostos, ou cortes na despesa, o que nos leva a pensar na saúde e educação. É caso para dizer que estaremos perante um caso semelhante ao BPN só que dimensão gigantesca. Depois de tantas boas intenções governamentais veremos qual a fatura que virá a quando do Orçamento de Estado (OE) para 2015. Só nessa altura teremos a verdadeira dimensão do problema. Quanto ao Novo Banco vai ser restabelecida a confiança e o equilíbrio e depois será vendido. Mas ainda falta saber a quem e se alguém estará interessado. Neste momento apenas sabemos que o banco não estará em bolsa até que tudo esteja arrumado. Mas ainda falta falar do comportamento do BdP. Este andou mal, - basta ver as declarações feitas à dias atrás onde tudo parecia estar bem -, o que se conclui que o BdP não andou avisado em toda esta estória. Aliás, foi sintomático que na intervenção do governador ontem, uma boa parte tenha sido dedicada a justificar o comportamento do banco nacional. Quando se perde tanto tempo com justificações é sinal evidente de que a consciência está um tanto ou quanto pesada. Não pretendo aqui crucificar Carlos Costa por isso, como alguns membros da maioria fizeram com Vítor Constâncio. (O silêncio de alguns é bem ensurdecedor como o é o de Nuno Melo que emergiu como o "verdadeiro inquisidor" no caso BPN). Conheço Carlos Costa e sei da sua competência, mas não pode eximir-se à sua quota de responsabilidade em tudo isto. Com a agravante de este ser um segundo caso. Constâncio ainda poderia ter a desculpa de que o caso BPN foi o primeiro e apanhou todos de surpresa, mas este é o segundo e deveriam ter sido tiradas ilações, ensinamentos e alertas que não o foram, e as declarações do governador dias antes são disso exemplo claro. Esperamos agora que o "inquisidor-mor" Nuno Melo venha a terreiro, caso contrário, perderá a face e mostrará as suas verdadeiras intenções e da maneira como está na política. Normalmente esta é a triste sina dos "justiceiros". Quanto ao resto, há que esperar para ver o que o futuro nos dirá. Estou curioso para ver como se passará a abertura dos mercados esta manhã e como os depositantes e clientes se comportarão. Porque deles também dependerá a recuperação dum banco, Novo pelo nome, mas velho de problemas. Duma coisa podemos estar seguros, a credibilidade do sistema financeiro português sai disto tudo muito abalada, quer a nível nacional, quer a nível internacional. Esse é um preço que teremos que pagar e que em nada ajudará Portugal nestes dias aziagos por que passamos.
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