O colapso de um império
Ainda as férias mal começaram e já estou aqui de novo, mas penso que o assunto é da maior relevância. Temos vindo a assistir a uma novela em torno do Grupo Espírito Santo (GES). Tenho visto alguns comentários de gente comum que se refere a este caso como algo que até já nem suportam ouvir. (Se calhar dirão o mesmo do que aqui estou a escrever). Mas será importante que as pessoas percebam - mesmo as não iniciadas nestes temas - que este caso vai muito para além do GES e até do Banco Espírito Santo (BES). O BES sempre foi um banco do sistema, curiosamente, deste e doutros. (Afinal o dinheiro não tem rosto nem ideologia). É do conhecimento geral que Ricardo Espírito Santo Salgado era um homem com um poder imenso, que - como alguns "media" fizeram referência há dias - ditava políticas, "elegia" e "depunha" governos, "afirmava" políticos ou "afastava-os". O banco financiava o sistema e os seus partidos - mesmos os que não eram do chamado "arco governamental" ao que se diz por aí - mas exigia o seu penhor em troca. Por isso, a gravidade da situação deve-nos preocupar a todos porque como banco importante do espetro financeiro nacional terá com certeza envolto em si um risco sistémico que os políticos no início quiseram afastar mas que agora já não podem ocultar. De facto, o BES tem um elevado risco sistémico pela sua envolvência na economia, - financeira e não-financeira -, e pode condicionar, por isso mesmo, toda a economia nacional. Já não bastava estarmos metidos numa trapalhada monumental, dum país que saiu "limpo" da "troika", mas que tem um crescimento débil e um desemprego enorme, mesmo com a arrazoada governamental que parece querer negar a evidência quando o seu "ratio" evolui uma décima que seja. Tudo isto é ridículo e a verdade continua a ser ocultada aos portugueses, como aliás já tinha sido, a quando da vinda da "troika" para Portugal. (Mas sobre isso já disse o que pensava em tempo útil e não me quero afastar do tema). Assim, quando vejo comentários sobre este caso de pessoas que o pretendem desvalorizar é bom que pensem bem sobre isso porque talvez a curto prazo vão ser - vamos ser todos - chamados a cobrir mais um colossal buraco, a exemplo do que sucedeu com o BPN e o BPP. Dentro de dias - penso que não passará deste fim-de-semana - saberemos como vai ser feita a recapitalização do banco, que é necessária e urgente -, e que já foi imposta pelo Banco de Portugal (BdP). E já que falamos em BdP, seria bom repescar algumas ideias que a maioria PSD/CDS-PP, andou a dizer sobre a regulação em tempos idos, que levaram à situação do BPN e do BPP. Curiosamente, agora parece que a regulação esteve bem, os maus são os membros do GES, sobretudo Ricardo Salgado, o "cabecilha da seita", quais assaltantes embuçados de rosto tapado. Até uma conhecida figura conotada com a direita e comentador político numa programa televisivo de grande audiência, vem agora apontar o dedo a esta gente tão má, mas a quem ele serviu - direta ou indiretamente - em tempos bem próximos. E como ele existem muitos. Ainda se lembram de aqui há umas semanas um outro banqueiro que falando de Ricardo Salgado dizia que "era o homem que mandava nisto tudo"? Pois é, nesta terrível costumeira lusitana de apenas ser-mos fortes com os fracos, - ou com aqueles que caíram em desgraça - agora somos todos heróis, já sabíamos de tudo, exigimos a "flagelação" e "crucificação" desta gente, quando no passado recente nos curvávamos à sua passagem e estendíamos a mão na, - por vezes vã -, tentativa de que nela caíssem algumas migalhas. Hoje é claro que o caso do GES mostra contornos mais do foro policial do que doutro qualquer, mas quando nos pretendem dizer que o BES nada tem a ver com isso, que está bem e recomenda-se, estão a tentar envolver as pessoas numa tremenda falácia. O BES tem uma tremenda exposição ao GES, por isso, não pensem que vai sair incólume de tudo isto. O não pagamento a alguns clientes, a que o BES vai informando de que apenas está a cumprir as normas do BdP, é mais uma enorme mentira. Há cerca dum mês, já existiam dependências deste banco que não estavam a assumir os seus compromissos com os seus clientes, e nessa altura, ainda não havia nenhuma indicação do BdP sobre a matéria, porque a haver, então o banco nacional também tem andado a enganar os portugueses sobre o assunto quando diz que o BES não tem problemas e que é um banco solvente onde os depositantes podem ter o seu dinheiro com confiança. Sei que o regulador não deve ter a consciência tranquila - como no passado recente também não, como o foi nos casos BPN e BPP - o que só vem provar a sua incapacidade para lidar com estas questões. Também me parece estranho, - e esta questão já foi levantada por muita gente -, que quando tivemos uma "troika" durante três anos a esmiuçar tudo, não se tivesse apercebido disto. Coisas estranhas e insólitas que se passam nesta terra lusitana. Agora temos que estar alerta ao que por aí virá. Dentro de muito poucos dias saberemos o que vai acontecer e se seremos chamados a apoiar - mais uma vez - a banca num processo de contornos muito estranhos. Já não faltará muito. Estejamos atentos. De uma coisa temos a certeza, este império está a colapsar como um verdadeiro castelo de carta, sem honra nem glória, muito semelhante ao que há quase dois milénios aconteceu com um outro império, o Império Romano. Será que esta coisa de impérios tem esta malfadada sina de acabar numa queda vertiginosa e com estrondo? Não sabemos se é assim ou não, mas lá que parece, parece.
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