Equivocos da democracia portuguesa - 341
A nossa democracia está doente, apodrecida, embora ainda jovem face a outras que por aí existem no mundo. Esta degradação, esta falta de qualidade deriva, essencialmente, da falta de qualidade dos políticos. Sabemos que é fácil criticar os políticos, sobretudo, em momentos de aflição como estes por que passamos. Mas se compararmos a qualidade dos políticos de 1974 para cá, vemos que ela tem diminuído duma forma avassaladora. Tudo isto se prende com um comentário que um político, que é simultaneamente comentador duma estação de televisão, fez a semana passada a propósito do caso Ricardo Salgado. Dizia este que "a situação que envolveu Salgado derivava da promiscuidade da política e dos negócios" acrescentando, duma forma incisiva e acutilante, que se deveria investigar desde logo o financiamento dos partidos políticos. Em primeiro lugar gostaríamos de dizer que neste país de "arrependidos" é sempre fácil causticar com o nosso ferrete aqueles que caem em desgraça, atitude que não se teve quando eles eram o poder quase absoluto em Portugal, onde se ia ao beija-mão, se andava em torno deles cheios de salamaleques, onde se estendia a mão para a campanha eleitoral e para financiar o partido. Depois gostaríamos de dizer que, ao que se sabe, o BES financiou todos os partidos do chamado arco da governação, PS, PSD e CDS e que até, inclusive, o PCP não escapou. De uma coisa se pode estar certa, Ricardo Salgado e o BES nunca poderão ser acusados de não serem "democráticos" nas benesses. Todos sabemos e os media disso têm feito alarde, que Salgado era o homem que "elegia" governos e derrubava governos, lançava políticos e destruía políticos. Ela era o "homem que mandava nisto tudo" como um seu colega banqueiro achou por bem dizer há dias numa entrevista. Mas que esse antigo dirigente do PSD, Marques Mendes, porque é dele que falámos, venha dizer isso, depois se ter banqueteado com os euros desse banqueiro, como todos os outros, é no mínimo indecoroso. Porque todos receberam, de facto, numa enorme promiscuidade entre política e negócios. Mas que agora venha dizer isso, é no mínimo o não ter um pingo de vergonha. Esperava mais desse senhor, afinal, é mais um como tantos outros que andam por aí. Esses mesmos que desqualificam a nossa democracia, que fazem dela uma democracia doente e apodrecida. Que ajudam a manter este lodaçal em que nos fazem chafurdar, a todos, como país. Não pensei que depois de ter-mos visto nascer a democracia no nosso país em 1974, cheia de esperanças e expectativas, a vejamos agora neste estado. Estes senhores que são os principais responsáveis pelo estado disto tudo, deveriam ter contenção, diríamos mais, vergonha sobre aquilo que dizem. E não se esqueçam que quando a democracia está doente há sempre alguém que ache que tem a cura, messiânica ou não. Já vimos isso no passado e tememos voltar a ver isso de novo no futuro
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