A bestialidade humana
Tenho hesitado em escrever sobre a natureza humana pela sua complexidade que é capaz de se reverter do melhor e do pior, "ser o pau tosco ou o santo esculpido que se coloca no altar" para utilizar a expressão feliz do Padre António Vieira nos idos do século XVI. Mas depois do que tenho assistido nos últimos dias, penso ser um imperativo de consciência, - porque o calar seria uma forma de conivência -, pelo menos face à minha consciência. Tudo isto a propósito de dois incidentes que têm ocupados os "media" nos últimos dias. Ambos grotescos, que demonstram bem aquilo de que é capaz a natureza humana. O primeiro, e porventura mais chocante, foi o abate do avião malaio sobre a Ucrânia na sua parte controlada pelos rebeldes pró-russos. Quando os céus da Europa já não estão seguros então algo de muito preocupante se está a passar. Como é possível que um bando de terroristas armados pela Rússia, - seja lá em nome de que ideal estão a lutar -, se dão ao cúmulo de abater um avião civil de passageiros? Como é possível que só depois de quatro dias, depois dos destroços manipulados, muita coisa com certeza roubada e ocultada, é que é permitido o acesso aos investigadores? Como é possível que os corpos estivessem na berma da estrada, alguns em sacos semiabertos, exibindo os seus trágicos despojos? Será que este bando de assassinos, (alcoolizados segundo alguns, embora as imagens das televisões não deixem grande margem de dúvida), são capazes de tamanha impunidade? Porque é que só, esse ditador russo, oriundo da mais feroz polícia política da antiga União Soviética, como foi o caso do KGB, só agora interveio junto dos seus capangas que ele armou, que ele treinou, a quem ele forneceu armamento, que ele apoio com outros assassinos a seu soldo para ajudar na matança? Será que só as sanções económicas são capazes de produzir milagres? Será que o valor da vida de pessoas inocentes pode ser trocado por um punhado de notas? Mas não se pense que é só aqui que as coisas estão mal. O outro caso que vos proponho é o da invasão da Faixa de Gaza por Israel. Curiosamente, foi menos noticiado porque, infelizmente, parece que já nos vamos habituando a estas diatribes. Todos vimos como, para além dos soldados do Hamas, se bombardeiam hospitais, se impedem de circular ambulâncias abatendo os seus próprios motoristas, como se impede a ajuda humanitária, como se destroem casas a esmo de gente que quase nada possui e nada tem a ver com guerras, que matam crianças inocentes que nem chegam a perceber o que está a acontecer à sua volta. O governo fascista de Benjamin Netanyahu faz isto com uma total impunidade porque sabe que pode sempre contar com o apoio de muitos países ocidentais, desde logo, os EUA, onde o "lobby" judeus tem um peso muito importante. Como é possível que essa impunidade continue numa guerra desigual, onde os números de mortos de ambos os lados são bem o exemplo de escala proporcional, dum lado e do outro, se mantenha por muitas décadas? Há dias estava num "fórum" onde alguém, a propósito desta matéria, afirmava que "afinal, parece que Hitler tinha razão". E isto é muito grave porque vemos o governo fascista de Israel a utilizar os mesmos métodos de que se queixaram no passado quando os nazis pretenderam o seu extermínio. E agora, até os EUA se vêm compelidos a intervir face a tamanho desaforo que a internet e as televisões já não podem fazer com que se escondam. Estes são dois exemplos de "ideologias" diferentes com as mesmas consequências quando governos extremistas, ou seus apoiantes, chegam à esfera do poder. Mas para além da guerra onde não existe nem ética, nem vergonha, há ainda a política suja de sangue inocente, do poder pelo poder, apenas e só pelo domínio do outro. No primeiro caso, é o saudosismo comunista que leva que um punhado de energúmenos apoiados pela Rússia assassinem pessoas inocentes que nada têm a ver com os seus problemas. No segundo caso, é a ânsia de cercar a Faixa de Gaza, conquistar mais território, criar um país com uma capital aberta controlada pelos sionistas, e empurrar os palestinianos para o mar, visto todas as outras vias de fuga lhe estarem vedadas. Esse era o sonho já longínquo de Ben-Gurion, que continua a ter seguidores nestes nossos dias de apocalipse. Duas situações, em duas partes do globo, com motivações próximas, a conquista, sempre a conquista com a ânsia do poder, cada vez mais poder, onde a dignidade humana já não tem lugar, nem gente deste jaez saberá, porventura, o que isso significará. Dois exemplos apenas, embora neste mundo desigual existam muitos mais, que dão bem a ideia da pequenez do ser humano que vem inquinando este planeta que é a nossa casa comum, sem dignidade nem elevação. Este pode ser bem um símbolo do fim dos tempos, nessa identidade mítica e bíblica, que conhecemos. Porque se assim não é, andaremos por lá bem perto.
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