No rescaldo do 5 de Outubro
O 5 de Outubro passou a ser uma festa feita intramuros sem a participação popular com medo que estas se assumam.. Vai daí que o povo faz a estes festejos o célebre manguito do Zé Povinho, deixando a Praça do Município às moscas. Mas para além disto, a incongruência dos discursos também não deixa de ser fator de divórcio do povo face aos seus governantes. Desde logo, o mais importante, o do Presidente da República que mandou muitos recados aos partidos e mais uma vez apelou ao consenso. Quanto ao consenso, bastou ouvir as reações no exterior da Câmara de Lisboa para se perceber que, neste momento, não passam duma figura de retórica, duma verdadeira utopia. Quanto aos recados do Presidente, é preciso que tivesse havido alguma autocrítica para serem escutados pelas gentes. Porque Cavaco tem deixado o governo fazer o que quer, mesmo contrariando a Constituição que ele jurou defender, e sem uma palavra para os atropelos que já se tornaram caricatos. O caso da Justiça e do famoso Citius já virou anedota, ao ponto do jornalista e membro do PSD, Pedro Marques Lopes, cognomizar a ministra da pasta como "o fenómeno", dada a falta de jeito que a senhora ministra tem para estas coisas da governação. Mas ainda mais estranho é o caso do ministro da Educação, figura prestigiada no meio académico, mas duma total incompetência e insensibilidade face ao descalabro da colocação de professores, só com paralelo no governo de Pedro Santana Lopes. Como dizia Martin Luther King: "Mesmo que você seja varredor, seja o melhor varredor do mundo". O que vemos na governação está bem longe disso. Quanto a estas duas questões o Presidente nem uma palavra disse. Mas seria bom que fizesse uma análise sobre as condições de vida dos portugueses. Por exemplo, o ainda fresco aumento do salário mínimo nacional que passou para os 505 euros. Contudo, e se fizermos a análise comparativa e corrigida a valores de 1974 ele deveria ter sido de 577. Uma diferença substancial que traduz a perda efetiva de poder de compra das populações, ou seja, o empobrecimento dos portugueses e da nação, mas quanto a isto também não se ouviu uma palavra. Até parece que aquilo que se estava a passar dentro da Câmara de Lisboa era um outro país que não o que se vive nas ruas. E era de facto. Por isso, os portugueses não compareceram porque acham que daí nada sairá de significativo. E assim as comemorações do 5 de Outubro, e não só, se vão esvaziando. Cada vez mais de circunstância de costas para as populações. Ao se tentar homenagear a República, está apenas a conseguir-se afastar as populações dos seus ideais. E ainda anda por aí muita gente a questionar-se sobre o desinteresse das populações pela coisa pública?
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