Herberto Helder ( 1930 / 2015 )
Herberto Hélder Luís Bernardes de Oliveira nasceu no Funchal, em S. Pedro, a 23 de Novembro de 1930 e faleceu ontem, dia 23 de Março de 2015 em Cascais, aos 84 anos de idade. Foi um dos maiores poetas portugueses, considerado o "maior poeta português da segunda metade do século XX". Veio cedo do Funchal para Lisboa onde viveu toda a sua vida. Poeta discreto, quase marginal, que recusou as condecorações que lhe quiseram oferecer. Poeta que há muito vivia isolado sem contactos sociais era considerado um poeta anti-social, hermético até. Queria ser discreto, como discreta foi a sua vida, que não a sua enorme poesia. Da sua obra, podemos dividi-la en duas partes, a poesia e a ficção. Da poesia, saliento: Poesia – O Amor em Visita (1958), A Colher na Boca (1961), Poemacto (1961), Retrato em Movimento (1967), O Bebedor Nocturno (1968), Vocação Animal (1971), Cobra (1977), O Corpo o Luxo a Obra (1978), Photomaton & Vox (1979), Flash (1980), A Cabeça entre as Mãos (1982), As Magias (1987), Última Ciência (1988), Do Mundo, (1994), Poesia Toda (1º vol. de 1953 a 1966; 2º vol. de 1963 a 1971) (1973), Poesia Toda (1ª ed. em 1981), A Faca Não Corta o Fogo - Súmula & Inédita (2008), Ofício Cantante (2009), Servidões (2013) e, por último, A Morte Sem Mestre (2014). Na ficção encontramos três livros: Os Passos em Volta (1963), Apresentação do Rosto (1968), A Faca Não Corta o Fogo (2008). A título de homenagem deixo aqui um dos seus inúmeros poemas, que tem por título "Sobre um Poema":
Sobre um Poema
Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
Herberto Helder
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
Herberto Helder
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