14 anos depois do desaparecimento de minha Mãe
Hoje passa mais um, - o 14º ano - após o desaparecimento físico de minha Mãe. Como já por diversas vezes aqui disse, era então Domingo de Ramos. (Julgo que nunca voltaram as datas a coincidir, o Domingo de Ramos com o dia 8 de Abril). Era uma manhã de sol, quando estacionei no parque do Hospital Pedro Hispano onde ela se encontrava há precisamente 15 dias. Eram 11 horas, a hora das visitas começava. Nesse momento, a minha Mãe partia definitivamente e eu ainda não o sabia. Quando a minha mulher subiu - ia sempre em primeiro lugar - notei que ela se demorava mais do que o habitual. Achei estranho. Estava ansioso porque tinha que contar algo a minha Mãe que tinha acontecido no dia anterior e que sabia que ela iria gostar. (Tratava-se da visita que um amigo me tinha feito no sábado, pessoa que muito estimo e por quem ela tinha uma quase veneração, como se de um filho se tratasse. Durante o período em que esteve hospitalizada, muitas vezes fez referência a essa pessoa e de como gostaria de a ver de novo. Coisa que, infelizmente, nunca mais viria a acontecer). Eis quando a vejo descer com um saco de plástico na mão cheio de roupa e a chorar. Não acreditei - ou não quis acreditar - no que vi-a. Depois foi o choque inevitável. A dor avassaladora. O sofrimento transformado em ódio, em raiva, que depois - nem sei bem como - se viria a transformar em perdão. Porque acho que esse é o sentimento maior, aquele que um dia, quando chegar a nossa partida, será o testemunho que temos de dar, assim o creio. "O que fizeste afinal do perdão, do amor?" - poderá, porventura, ser-nos perguntado. E que responderemos se não formos capazes de perdoar!... Nessa confusão de sentimentos que me esmagaram nesse dia, fixo hoje precisamente este, o do perdão, o do amor, a paz interior, que na altura senti, sem saber bem porquê. Depois da tempestade ciclópica, a bonança iluminada, precisamente naquele momento trágico, em que tudo era confusão para mim, numa altura em que os sentimentos se misturavam. Hoje julgo que encontrei a resposta, julgo saber o porquê, mas é um sentimento íntimo que guardarei para mim. (Ela que no leito que viria a ser o de morte, tanto me pediu que perdoasse). Volvidos 14 anos, a dor permanece, como se fosse ontem, como se tivesse acontecido há minutos. Apesar de tudo o equilíbrio das esferas retomou-se. O mundo continuou a girar indiferente a tudo. A vida continuou no seu ciclo inexorável. 14 anos passados apenas a saudade permanece, neste dia como em todos os do calendário. A memória ficará para sempre. 14 anos depois espero, que lá onde estiver, esteja em paz. Essa mesma paz que já me penetrou há muito. Descansa em paz, minha Mãe! (Quero aqui recordá-la em tempos muito anteriores e mais felizes. E vai daí mergulhei de novo no baú das recordações. E lá estava. Esta foto foi tirada na casa onde nasci e data do início dos anos 60. Como se pode ver pela qualidade da mesma, era o início da fotografia a cores. Essa, juntamente com uma outra em que sou protagonista e tiradas ambas na mesma altura, foram as primeiras fotos a cores que tivemos. Outros tempos, ainda bem longe do digital).
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