Turma Formadores Certform 66

Saturday, November 19, 2016

Sete dias depois!...

Sete dias passaram e parece que foi ontem que partiste. Sempre que passo junto ao muro onde tantas vezes, e durante tantos anos, te vi a saudar quem passava, - ou a chamar por quem de ti cuidou até ao fim -, não deixo de olhar, sempre na expectativa de que apareças ali, na abertura do muro para me saudar. Mas não. O teu latido já não se ouve. A abertura na parede está vazia. O silêncio é total. Aquele silêncio que se diz de morte, mas também, aquele silêncio sinónimo de uma paz etérea. Parece que foi ontem que partiste e já passaram sete dias. Por cá a tua memória perdura e perdurará, - como permanecerá junto da pessoa que de ti cuidou -, apenas por pena de ti e muito amor por um ser atirado para ali como lixo. O teu dono derradeiro já nem se deve lembrar de que algum dia exististe. O anterior muito menos porque era o seu desígnio abandonar-te num monte à tua sorte. Foste afortunado então, talvez a única vez que a vida te concedeu tal. Porque depois a tua vida foi sofrida. Sempre só e abandonado, exceto pelos momentos em que alguém ia cuidar de ti. E quando o teu 'dono' aparecia, apesar da indiferença com que ele te brindava, logo tu te punhas a saltar e agitar a cauda. Fiel e leal a um ser que não te mereceu. Assim estiveste até ao teu derradeiro momento. Coberto de parasitas que até os olhos te comeram ainda em vida. Sofrimento atroz que não se deseja a ninguém. Mas agora tudo passou. Não foste enterrado no dia seguinte como estava prometido, mas no outro dia. (Porque empregado e patrão parece serem ambos farinha do mesmo saco). Permaneceste abrigado e amortalhado na tentativa de teres dignidade na morte, a mesma que te faltou em vida. Soube depois pela pessoa que cuidou de ti, - ainda com lágrimas a escorreram pelo rosto -, que para além da saudade que tinha de ti, tinha ficado feliz por que te deram uma sepultura digna, debaixo de um frondoso diospireiro onde tantas vezes te defendias do calor. 'Até parece a sepultura dum humano' afirmava a senhora no seu triste contentamento. Sei que todos os dias ela vem à janela e da sua casa consegue olhar para o local e ter um pensamento para ti, talvez uma oração. E enquanto te lembrarmos assim, tu também não morrerás totalmente. Serás uma parte de todos nós que tanto te amamos. Mas estou certo que, a felicidade que te fugiu na vida, tê-la-ás agora, lá onde estiveres. Porque seres sublimes como tu merecem isso e muito mais. Até sempre, Companheiro. Descansa em paz!

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