Turma Formadores Certform 66

Monday, December 18, 2017

Bom Natal, amigos! (Ou um Natal cada vez menos alegre)

Eis-nos chegados a mais um Natal! Esta é uma época que para mim assume sempre alguma conflitualidade de sentimentos. Porque para além do brilhantismo das luzes e da alegria familiar, - cada vez mais esparsa à medida que a família encolhe -, sinto sempre aquele lado mais sombrio, especialmente nesta noite, de todos aqueles que sem família,  - ou tendo-a, não têm um teto onde se abrigar -, seja qual for a razão. Mas também os animais preenchem o meu pensamento. Aqueles que estão ao frio e à chuva, por vezes atolados em lama, muitas vezes acorrentados, sem um afago ou um gesto carinhoso para os libertar de tal sina. (E não posso esquecer o meu Nicolau também ele abandonado numa véspera de Natal à quinze anos atrás ainda bebé). Isto sempre me acontece. Todos os dias tenho este sentimento de desconforto, mas especialmente nesta noite, que se pretende de paz e amor, ver essa paz estilhaçada por todo o lado e o amor reduzido a uma mera palavra de circunstância, dói ainda mais. Quando pequeno, estes sentimentos passavam-me ao lado, o que até é natural numa criança na ânsia dos seus brinquedos (que só nesta época se obtinham), num tempo de despreocupação típico da infância. Mas cedo, - talvez fruto da educação que tive ou porque nasci simplesmente assim -, este sentimento de desconforto se foi apoderando de mim. Primeiro, por um indiscutível amor aos animais que foi crescendo desde bem cedo, depois, pela consciência mais apurada de que nem todos tinham um lar - sequer uma família - com quem celebrar o Natal. E aí perdi o chão. Por isso, o Natal desde cedo foi sempre uma festividade partida a meio, perdida entre sentimentos contraditórios. Hoje, bem longe da euforia dos presentes ou da comezaina a preceito como se não houvesse amanhã, o Natal adquire uma certa forma de festividade espiritual - como acho que ele deveria ser celebrado - porque a idade a isso induz e porque quase toda a minha família já se encontra a decorar a minha enorme galeria de ausentes e que aqui quero lembrar. E isso ainda me faz voltar mais atrás, à minha meninice, - aos outros natais, aos natais passados -, aos festejos em torno duma criança que se sentia amada, e cujos protagonistas de tão excelsa condição já cá não estão. Sei que é assim o ciclo da vida e um dia eu também serei uma memória para alguém. (Parto do princípio incerto de que alguém se lembrará de mim depois da minha jornada ter terminado.  Talvez seja um pouco de pretensiosismo o pensar tal coisa, mas enfim, amacia o ego de qualquer forma. Este é um teorema que, naturalmente, carece de demonstração). E assim vai passando este tempo natalício para mim, coisa que aliás, anseio que termine o mais rapidamente possível. (Adoro os seus preparativos que me fazem lembrar a minha meninice, mas à medida que a data se aproxima, apodera-se de mim uma terrível angústia fruto de memórias bem menos eloquentes dum passado não tão distante assim). E, depois do que atrás disse, é fácil perceber por quê. Hoje com a família nuclear ausente há muito, apenas me resta a outra, a família adotiva como gosto de lhe chamar, aquela que gira em torno da minha querida afilhada Inês e que é a família que me resta. (Desculpem-me falar assim, mas vós sóis, - Sandra Ferraz e Airez Ferraz, bem como o Tiago, para além da Inês que enche os nossos corações de luz -, para o bem e para o mal, a minha (nossa) única família, e isso não esqueço nunca. Pelo que sóis, pela maneira como nos tratais, pelo carinho que sentimos por vós. E isso é muito importante e não assume qualquer papel de vacuidade. É apenas um sentimento sincero e puro saído do coração). Também aqui quero recordar duas pessoas a quem hoje dirijo em especial o meu pensamento. Já sabeis quem são: a Margarida Ferreira e a Cris Pinto. Se a primeira, já há muito venho seguindo e a quem tenho dedicado alguns dos meus pobres escritos, a segunda surgiu mais recentemente com muito agrado meu. Ambas têm uma espécie de cordão umbilical que as une - aliás, nos une aos três, permitam-me dizê-lo - que é o meu querido Repinhas. Como se lembram o Repinhas era o último cachorro da chamada matilha de Rio Tinto, e que a ajuda da Margarida e a disponibilidade da Cris, me ajudaram a realizar um sonho já com muitos anos, o de arranjar um lar onde o Repinhas terminasse os seus dias. Ele que representa o animal sofredor, mas resiliente, aquele que nunca teve um lar, nem sempre um prato com comida e uma taça com água. Que nunca teve um aconchego para o frio e o abrigo para a chuva. Um gesto de carinho sequer. Ele que agora tem isso tudo, fruto de dois enormes corações que lá longe, em Bragança e em Macedo de Cavaleiros, respetivamente, souberam interpretar o verdadeiro e real sentido do Natal. A caridade, o amor, a ajuda desinteressada. Para vós ambas, aqui vos deixo o meu mais profundo agradecimento e votos dum Natal muito feliz na medida da grandeza que vós encerrais. A vós me curvo reverente porque o mereceis. Vós sóis o melhor do ser humano. E ao Repinhas - que nunca esquecerei - que tenha um resto de vida digno e que quando chegar a hora de partir deste mundo que leve com ele o sentimento de que ainda há seres humanos dignos desse nome. E posto isto, assim me preparo para celebrar o Natal. Aquele Natal verdadeiro dum ser humilde e que nós confundimos com sumptuosidade, aquele Natal verdadeiro dum ser frugal e que nós confundimos com opulência, aquele Natal verdadeiro dum ser simples e puro que nós confundimos com poder e arrogância. Há muita confusão em torno do Natal - do verdadeiro Natal - e não daquele cheio de neón a ofuscar a visão e a esconder a miséria do outro - humano ou animal -, cheio de presentes a esconder a simplicidade, cheio de mesa farta a esconder a frugalidade da celebração. Um Natal primordial confundido com o consumismo mais desenfreado como tudo o resto na vida dos nossos dias. Esse não é o meu Natal. Esse não deveria ser o verdadeiro espírito de Natal. Mas deixemos estas reflexões para uma outra altura porque a prosa já vai longa. Agora só vos quero desejar a todos, amigos, inimigos ou pessoas para quem sou indiferente, - aqueles de que gosto e aos outros de que não gosto tanto -, um Feliz Natal. (Todos vós sois importantes na minha vida). Que o passeis o melhor possível junto das vossas famílias e/ou amigos. E sobretudo, que tenhais a companhia da vossa consciência, leve, serena e simples, tal como é o simbolismo do Natal. Pelo menos do meu Natal. Bom Natal para todos vós!

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