Turma Formadores Certform 66

Friday, December 15, 2017

Um país delator

Temos assistido a alguns casos onde a corrupção mais ou menos institucionalizada é visível, embora nestas coisas é sempre difícil saber quem é capaz de atirar a primeira pedra. Desde os tempos bíblicos que é assim, e parece que o mundo não mudou tanto assim desde então. Desses casos incríveis que nos vão ocupando o espaço mediático, o último tem a ver com o caso Raríssimas. E volto a ele, ainda e só, depois de ter ouvido ontem a intervenção de António Lobo Xavier - um insuspeito alto dirigente do CDS/PP - sobre esta matéria na 'Quadratura do Círculo' da SIC Notícias. Ele tem razão quando diz que não pode subscrever algumas coisas que as televisões (neste caso a TVI que denunciou o caso) andou a transmitir. Nas imagens que apresentaram, ficava claro que elas tinham sido obtidas duma forma ilegal. Ninguém pode estar de acordo quando alguém de má fé - porque só pode ser com segunda intenção - capta imagens que são ilegais e abusivas em determinadas reuniões. (Tal como a foto que ontem publiquei que parece que na viagem ao Brasil mais alguém foi com outros intuitos na preparação dum caso que viria a rebentar mais tarde). É claro que o denunciante que vi dar uma entrevista com aquela pose de delator que é bem conhecida - não sei se era só este ou há mais - via-se bem o propósito e até a postura. Seria bom que a investigação fosse estendida a esta criatura para ver se é tão moralista assim ou se é apenas movido pela inveja social que estas situação despoletam. (Já agora, até se pode dar o caso do feitiço se virar contra o feiticeiro. O "Sexta às 9" da RTP1 promete para logo algumas coisas que podem mostrar uma outra visão do problema. Aguardemos pois!). Aliás, penso que se nada for feito sobre a captação ilegal das imagens, tudo estará ferido de credibilidade mesmo que se tente reparar os abusos de quem tão fraudulentamente geriu a instituição. Mas penso que a medalha - tal como a verdade - tem sempre pelo menos duas faces e seria bom que não percamos isto de vista. A fiscalização desta, como doutras instituições, parece que mais do que preventiva, é cada vez mais reativa, vivendo da delação de alguém que está zangado com a instituição ou com quem a dirige. (No regime anterior do Estado Novo chamava-se a estes sujeitos 'bufos'. Parece que esta espécimen está de volta para gáudio de quem deveria estar atento a fiscalizar e não a reagir após as denuncias). Depois, como se não bastasse, há uma atitude social de bater a quem está na mó de baixo, aquilo a que se chama 'over kill', tão típico da nossa cultura, para além dum 'voyeurismo' serôdio, que mergulham na vida privada das pessoas. Isto não significa, como ontem afirmei, que esteja de acordo com atitudes abusivas deste jaez, mas também não subscrevo o 'modus operandi' que parece fazer escola entre nós, bem longe dos padrões de dignidade a que todos têm direito enquanto não forem condenados. Este país delator anda mal. A intervenção de Lobo Xavier é disso a certeza. (E não pensem que sou movido qualquer desconforto porque nunca tive qualquer ligação à instituição, nem tão pouco à sua ex-presidente, que aliás, nem conheço). É que para além da alegada fraude numa instituição pública há a onda política que se lhe segue. E essa pode ser aquela que mais interessa a certas pessoas. A procissão ainda vai no adro como se costuma dizer, esperemos pois, que ela sai da igreja e que chegue ao seu destino. E depois, sim, veremos o que restará de tudo isto.

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