Carta aos impolutos
Foi com surpresa e até estupefação que li as mensagens que gentilmente me enviaram. Não queria voltar aqui a trazer o caso do Repinhas, (nem pretendo dele falar), mas não posso ficar indiferente a alguns comentários que fizeram sobre o diálogo que ontem travei com essa grande Senhora - com letra maiúscula porque o merece - que é a Margarida Ferreira. Sinceramente não percebo - e isso deve ser incapacidade minha - o despropósito dos comentários. Aquilo que a Margarida disse na nota que publiquei sobre o Repinhas têm todo o fundamento. Durante quatorze anos acompanhei o Repinhas. Não tinha possibilidades de o adotar, e sempre que apelei à ajuda de terceiros, nunca nenhuma voz se ergueu para o ajudar a ele e, consequentemente, a mim. Hoje não deixa de ser estranho que tanta gente queira saber do Repinhas, precisamente - como dizia ontem a Margarida -, quando durante mais duma década o ignoraram. Apenas duas ou três pessoas me ajudaram nesta missão e a quem eu estou eternamente grato, mas tirando essas, tudo não passou dum olhar para o lado. Quando à menos de um ano ele esteve na iminência de ir parar ao canil, não vi esforço de ninguém para o ajudar. Tirando uma página de apoio, com o respetivo NIB pois então, e algumas partilhas, nada mais foi feito. (Acho até curioso que V. Exas. não tenham dado apoio financeiro quando a página foi aberta). Por isso, meus(inhas) amigos(as) não vos reconheço moral para dizerem o que quer que seja. Quando eu estava sem soluções, angustiado com a grave doença do meu cão e, ainda por cima, preocupado com a situação do Repinhas, foi a Margarida que deu o passo em frente para ajudar. E como dizia ontem uma pessoa que me contactou, "apenas a Margarida se chegou à frente, dado que parece que o Repinhas era uma espécie de 'rendimento mínimo' que se queria preservar." Não quero ir por aí, mas que tudo isto me parece estulto, podem crer que acho. O Repinhas, como disse ontem, está bem, tem uma cama quente que nunca teve, tem comida e água, sem ter que a andar a procurar, tem a dignidade que nunca lhe foi reconhecida. E isso, fruto da atitude da Cris Pinto, que o acolheu e o adotou, até que o fim da sua vida, o liberte da sua já longa e sofrida odisseia. Quanto à Margarida será bom que aqui fique claro, que ela representa para mim o que de melhor existe nesta causa animal. Não o faz por interesse, não o faz para que digam bem dela, não o faz para ter visibilidade, mas sim, porque tem um coração enorme e lhe custa ver o sofrimento desses seres sem voz. Como já aqui disse, a Margarida é aquilo que muitos de nós, que andavam nesta demanda, gostaríamos de ser mas não temos capacidade para tanto. Se há diferenças entre nós? Claro que sim. Se assim não fosse seria um aborrecimento. Mas sempre tivemos a capacidade de por de lado o que nos divide e concentrar-mo-nos naquilo que nos une. Esta Senhora é um exemplo para todos nós e isto não me canso de afirmar. É com imenso orgulho que a tenho no meu grupo de amigos e aqui continuará enquanto ela quiser. Ela como eu, estamos na vida de cara lavada, não nos escondemos por trás de fotografias inócuas por medo de revelar a identidade, vá-se lá saber bem por quê. Damos a cara, somos conhecidos, e assumimos a nossa causa comum. Fruto da mesquinhez que vejo por aí, é que nunca mais divulguei nenhum dos vários casos que apoio. Fi-lo apenas para a chamada matilha de Rio Tinto e ficou-me de lição. Eu sei que a grandeza de muita gente incomoda porque põe a nu a pequenez de tantos outros. (Já agora, está a correr na internet uma petição para ajudar a Margarida. Seria bom que a assinassem, pelo menos isso, porque é por uma boa causa, ajudar esta Senhora a ter um espaço para albergar com dignidade os muitos animais que resgata à rua e/ou ao canil municipal, livrando-os duma morte certa. E já lá vão quase mil! Sim, leram bem, quase mil). E quantos vós, mentes impolutas, salvasteis da morte? Serão assim tantos que nem vos lembrais? Se não querem participar não estorvem o caminho a quem quer ajudar. Criticar é fácil. Mas é quem suja as mãos quando necessário para ajudar que é digno de apreço. Por isso, nesta nota onde até poderia colocar o rosto do Repinhas, figurará o rosto da Margarida. Pela grande admiração que tenho por ela e pela sua obra em prol dos animais. A Margarida sabe que me tem ao seu lado, e vós, sabeis que não podereis vir com falsas questões que só vos degrada. Puritanos aqui são dispensáveis. Precisa-se é de pessoas de coração grande para lutar por estes infelizes. Sei que não me compreendeis porque tudo isto vos é estranho. Não passais de falsos profetas a anunciar a redenção. E se a partir de agora me quiserdes afastar, podeis crer que até vos fico grato. Mas não espereis que vos afaste a vós. Porque é importante que continueis a ver a obra feita às claras, sem a cobardia da mensagem a esconder falsos pruridos. Desejo-vos um feliz dia, mas atentais na vossa consciência, porque mais tarde ou mais cedo, ela vos chamará.
Com os melhores cumprimentos.
José Ferreira
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