Turma Formadores Certform 66

Tuesday, October 23, 2018

Crise de caráter

Muito se tem falado em crise, a propósito disto e daquilo, crise, financeira, crise de identidade, crise de valores, crise na saúde, crise na educação, mas uma mais torpe e silenciosa, pérfida e vil, é a crise de caráter. E temos visto muito disto por todo o lado, onde os poderosos dão o dito por não dito sem esmorecer, onde se negam as alterações climáticas que todos enxergamos dia após dia, onde se traficam drogas, armas, pessoas, não importa o quê, desde que o dinheiro apareça pelo meio. Vemos a religião mais poderosa do mundo minada nos seus alicerces por um cortejo de horrores. Penso que não há país do mundo que diga que está à margem desta questão por mais evoluído que seja. Portugal não é exceção atingido pela mesma crise que se espalha pelo mundo como cancro. Mas é em Portugal que quero centrar a minha atenção, porque é nele que vivemos e do qual fazemos parte. Começa a ser banal aparecerem pessoas com curriculum falsificados, com habilitações que estão longe de ter face ao que realmente têm. É na Proteção Civil, é no Governo, enfim, parece que virou moda afirmar-se ser-se aquilo que não se é. (Embora também pense que se houvesse um pouco mais de escrutínio na admissão muito disto se evitava porque pessoas assim não resistem a uma conversa mais profunda. A menos que quem o fizesse sofresse do mesmo mal, mas partamos do princípio que não). Na Justiça já há quem ponha em causa a maneira como isto ou aquilo é feito, - não sei se com provas, ou não ou simples meras suposições, ou apenas por mau perder -, mas a desconfiança lá está. É na Saúde, onde dantes os seus agentes eram soberanos e se alguma coisa corresse mal a culpa nunca era deles, - talvez até fosse do paciente em última instância -, coisa que cada vez mais é posta em causa para incómodo destes habituados à falta de escrutínio. No Ensino a mesma saga. Se há professores com denudada apetência e formação para dar aulas, muitos outros por ali andam à espera que o mês se esgote e o ordenado caia na conta. Mais uma daquelas profissões que noutros tempos não muito longínquos nunca era posta em causa. Depois foram as Forças Armadas que se envolvem numa operação digna dum qualquer Mr. Bean que a todos envergonha, (desde logo a começar pela própria instituição), mas também um país e um regime de que são um dos principais esteios. Aos poucos as fragilidades vão aparecendo aqui e ali, até donde menos se espera. Mas se pensávamos que já tínhamos visto tudo, pois desenganem-se porque não é assim. Ontem veio a lume nos media que um dos sindicatos da PSP estaria a divulgar imagens falsas sobre as agressões dum bando de marginais que andavam por aí a agredir idosos e que se encontram atualmente na prisão. É óbvio que este bando não tem, ou melhor, não pode ter perdão e espero que isso aconteça e que pesadas penas lhes sejam aplicadas. Mas que um sindicato pertencente a uma corporação duma força de segurança tenha recorrido a golpe tão baixo, - se é que tal está confirmado -, é de facto muito grave. Porque significa que as polícias em quem as pessoas confiavam para a sua segurança e às quais paga, com os seus impostos, os respetivos ordenados, tornaram-se em algo tão básico, tão falsário e corrupto quanto aqueles que vão detendo. Mas ainda por cima, e para recorrer de novo ao que os media dizem, tal prende-se com uma trama ao próprio ministro da Administração Interna o que torna a coisa ainda mais grave. Tudo isto dá a ideia duma certa tragicomédia, que só não é comédia porque tem tudo de trágico. A maior parte destas situações, mais do que de má fé, fazem transparecer na sua génese uma tremenda falta de caráter. Porque são as instituições que mais dizem às populações que se vêm a braços com estes escândalos, levando estas a não confiar nelas com a agravante de não saberem bem para quem se onde virar. Daí à justiça popular fora de todo este círculo, vai a espessura duma lâmina. Mas, como atrás referi, não pensem que é só em Portugal que tal existe. Isto é um cancro que é transversal à Europa e ao mundo. Parece que um qualquer Belzebu saiu lá do seu inferno mais profundo e obscuro para tramar os humanos enredando-os nas mais vis teias do inimaginável. Como estamos em plena era do Apocalipse, ou da Revelação, - para usar a terminologia anglo-saxónica -, provavelmente é isso mesmo. Apocalipse porque já não há solução mesmo com intervenção divina, ou da Revelação para nos ir mostrando que afinal aquilo em que acreditávamos não é mais credível, tudo não passando dum tremendo embuste. Mas meus amigos, demos as voltas que dermos, acabamos sempre por chegar ao essencial. O busílis da questão não é mais do que uma crescente falta de caráter que se vai insinuando mesmo em locais e instituições que estávamos bem longe de imaginar. Talvez este também seja um sinal do fim dos tempos, como afirmava Nostradamus, sempre com a ideia que depois viria uma era de gente bem melhor, mais capaz e, sobretudo, com mais caráter.

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