Turma Formadores Certform 66

Saturday, August 17, 2019

'Round Midnight' (Por Volta da Meia-Noite)

A noite já à muito que tinha caído com aquela humidade que se agarra à pele tão típica de Nova Iorque. Depois dum dia intenso eu e os meus amigos resolvemos ir a um bar, um daqueles bares tão típicos da 'Big Apple' onde se ouve boa música de jazz. Entramos num deles e logo fomos envoltos numa nuvem de fumo oriunda do muito tabaco consumido tão típico desses locais. Luz ténue a preceito que esconde os rostos de quem não quer ser notado. E lá nos deliciamos com a bela música que vinha do palco com um copo à mistura para tornar o ambiente mais acolhedor. A banda que tocava era constituída por músicos negros onde um branco fazia a diferença. Dei comigo a pensar que a multiculturalidade é uma das maiores marcas da cidade. Eram gente já com alguns anos e os 'standards' que tocavam talvez fosse uma maneira de recordar a sua juventude já passada. E por lá ficamos algum tempo falando sobre isto e aquilo enquanto as horas eram colecionadas regularmente nos ponteiros do relógio. Já tarde os meus amigos quiseram sair. Disse-lhe que fossem que eu ficaria mais um pouco a ouvir a bela música que a banda se esforçava por produzir. Afinal não é todos os dias que podemos conviver em espaços destes. Em frente ao copo quase vazio, envolvido num fumo que mais parecia nevoeiro, ia pensando na minha estadia nesta megacidade com a música a servir como de banda sonora dum filme imaginário se tratasse. Então alguém se aproximou. Veio por trás e não me apercebi disso. Uma mão suave, quente e sensual percorreu as minhas costas imobilizando-se no meu rosto. Olhei e vi uma mulher lindíssima, loira e sensual, olhos verdes, uma daquelas loiras de cortar a respiração como se costuma dizer. Insinuou se se podia sentar. Disse-lhe que sim. E ali ficamos, eu deslumbrado com essa pessoa, ela talvez rindo interiormente da minha surpresa. Começamos a falar disto e daquilo. Rapidamente me apercebi pelo sotaque que não era natural de Nova Iorque. Perguntei-lhe donde era. Disse-me que era de Chicago, mas vivia em Nova Iorque à um par de anos. Mesmo assim não conseguiu adquirir o sotaque típico da cidade, pensei para comigo. Entretanto um dos empregados, sempre atentos, logo lhe trouxe uma bebida. Eu já não queria mais apenas desejava desfrutar. Depois de muita conversa e sem que tal viesse a propósito disse-me que adorava animais. Tinha animais e gostava de cuidar de outros menos afortunados. Achei estranho essa relação das pessoas com animais numa cidade que mais parece um jardim de betão. Mas também lhe disse que era uma coincidência enorme porque comigo acontecia o mesmo. E enquanto falávamos a banda lá ia debitando música após música cada vez mais dolente como estavam os seus espectadores cada vez mais adormeci e bebidos. De repente e sem dizer nada de especial a mulher levantou-se e saiu apressada do bar qual Cinderela ao toque da meia noite. Curiosamente a banda encetava os acordes de 'Round Midnight' uma daquelas músicas conhecidas no mundo inteiro e interpretadas pelos mais variados artistas. Uma ironia pensei. Ainda mal refeito do que tinha acontecido minutos antes, resolvi sair para a noite profunda. Cá fora os 'neóns' iluminavam a noite com o seu brilho agitado para se tornarem mais notados. Havia imensas pessoas nas ruas. Esta cidade nunca dorme embora a 'fauna' que se vê de dia é bem diferente e menos colorida da que se vê à noite. Tirando isso, o ritmo da cidade é o mesmo. Embrenhei-me nesse mar de gente rua fora com humidade agora mais intensa a colar-se ao rosto. Um friozinho fazia-se sentir o que até era bom, depois de passar horas encerrado num bar abafado e com muito fumo. E lá fui a pensar como pode ser estranha uma cidade como Nova Iorque, sobretudo para um português a milhares de quilómetros de casa. E assim fui caminhando em busca do hotel perdido na 'Big Apple'.

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