1º de Maio - Dia do Trabalhador
Mais um 1º de Maio se celebra, o 46º em democracia. E como já vai longe esse outro 1º de Maio em que tudo parecia remar no mesmo sentido, ainda sem grandes clivagens políticas e ideológicas visíveis. O 1º de Maio remonta a um tempo ainda mais recuado. A celebração tem a ver com o que se passou no dia 1 de Maio de 1886, quando uma greve foi iniciada na cidade norte-americana de Chicago, com o objetivo de conquistar condições melhores de trabalho, principalmente a redução da jornada de trabalho diária, que chegava a 17 horas, para oito horas. Aquilo que hoje parece básico para qualquer um de nós - independentemente da ideologia - era algo anacrónico no século XIX. Aquilo que hoje ninguém põe em causa, era considerado como algo perigoso e revolucionário nesse tempo. Um tempo em que ainda não se falava tanto de comunismo, coisa que as pessoas nem sabiam bem o que era. Assim, a celebração se foi mantendo e o seu simbolismo também para servir de exemplo a outras pessoas, povos e nações dum outro tempo. Mais tarde foi conotado com o comunismo - embora isso não seja totalmente correto, tal assersão carece de ser clarificada - mas, mesmo com alguma confusão ideológica à mistura, a data deve ser celebrada. Em muitos regimes esta data é utilizada como bandeira ideológica, noutras como algo perigoso (tal como no longínquo século XIX) e é fortemente reprimida. Sei bem o que acontecia entre nós antes da democracia, quando as pessoas se queriam manifestar neste dia. Sei bem como grupos de jovens estudantes sem ideologia alguma bem definida, eram perseguidos, espancados e presos, só porque se queriam manifestar. Sei bem o que isso era porque cresci nesses tempos de escuridão que espero não voltar a ver no tempo que me resta de vida. E eu - como tantos outros - nunca fomos comunistas, se calhar nessa altura, nem sabíamos bem o que era a referência ideológica, mas isso não significava que não sofrêssemos a brutal repressão dum regime moribundo, nós que apenas queríamos ver um Portugal igual a tantos outros países que conhecíamos para lá dos Pirinéus e não a aldeia miserável, pobre e analfabeta que era a nossa imagem de marca no mundo. Hoje em liberdade, os mais jovens nem sabem o que isto significava à 46 anos atrás e os riscos que corríamos. Para eles é mais um feriado e um dia de festa, mais do que de ideologia, se essa ainda está presente. Este ano, será diferente. Confinados às nossas casas, não haverá desfiles certamente. Parece que voltamos aos tempos de escuridão. Só que agora, essa escuridão não existe, ou melhor, existe sob a forma de um vírus matreiro que por aí anda que faz o trabalho que antes era feito pela repressão. Curiosidades dos tempos e da História, mas que mesmo isso não sirva de pretexto para a sua não celebração. É importante que este dia não seja esquecido no que de bom e de trágico encerra. Viva o 1º de Maio!
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