46 anos de Abril
Celebramos hoje mais um dia da Liberdade. Foi à 46 anos e como bem me lembro desse dia, então um jovem estudante e da euforia que se apossou de todos nós. Para nós era a luz que rompia as trevas. Muitos não sabiam o que era, o que significava, nem como lidar com essa liberdade. Eu tinha uma visão diferente, fruto de ter começado a viajar muito cedo e saber o que eram países livres e desenvolvidos. Como sentia vergonha do meu pobre, miserável, sombrio país, sem perspetivas, para além duma guerra colonial que nada dizia à juventude da minha geração e da repressão que se abatia sobre as populações. Sim, sei bem o que isso era. Sei qual a sensação de ter polícia à porta das escolas, sem bem qual a sensação de ter polícia política dentro das escolas - e da desconfiança que levava a que não confiássemos em ninguém -, sei bem qual a sensação de medo que se sentia por dizer a mais leve coisa que hoje até parece inofensiva, sei bem da polícia política que vinha pela madrugada arrancar as gentes ao sono para as levar para a prisão e tortura, sei bem da prepotência dos poderes e da miséria das gentes. Portugal era a 'Aldeia da Roupa Branca' celebrizada pelo cinema do regime anterior porque o outro era banido e os seus autores perseguidos, presos e até mortos. Sim, foi isso tudo que Abril de 74 afastou das nossas vidas. Nem tudo foram rosas, - afinal a História está cheia desses exemplos -, mas houve alguns espinhos de permeio. Mas isso também levou a que soubéssemos ultrapassar as adversidades em nome do sabor da então liberdade adquirida. Soubemos preservá-la porque sabemos quão preciosa é. Mas o perfume, (que é o essencial), foi ficando. Foi-se entranhando. Não de rosas mas de cravos que floresceram numa madrugada longínqua de Abril nos canos das armas dos soldados libertadores. Viva o 25 de Abril!
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