Uma pandemia que vai, uma crise que vem
Continuamos mergulhados numa pandemia de dimensão mundial com a economia quase parada. Primeiro está a saúde, e é isso que Portugal e o resto do mundo estão a considerar. Essa é a prioridade e bem. Mas depois de tudo isto passar, haverá uma realidade a enfrentar bem diferente daquela que vínhamos vivendo. As contas públicas estavam a equilibrar-se e a dívida estava a diminuir. Os juros a baixar fruto da expectativa favorável dos mercados face à evolução portuguesa. E até o superavit já existia nas contas portuguesas. Tudo isso ruiu. (Como costumo dizer, uma economia tem um comportamento como uma pessoa em apuros, se damos um trambolhão, caímos rapidamente, mas para nos erguermos demoramos um pouco mais fruto da queda). Estaremos a recuar para valores de muitos anos atrás e a recuperação será necessariamente lenta. Há dias publiquei uma nota em que falava que um professor de Economia francês me dizia que a França estaria a recuar para valores próximos da II Guerra Mundial. Isto indicia o que se está a passar um pouco por todo o mundo. Esta crise que se está a formar, será um autêntico tsunami que, - embora ainda sem dele dar-mos conta -, temos que estar conscientes que virá por aí. A crise que se avizinha terá um impacto maior do que aquela por que passamos à cerca de dez anos. Nessa altura, era um país ou outro que tinha sido apanhado na problemática do subprime, agora é a economia a nível mundial que irá passar por uma situação preocupante o que implicará ajustes que terão que ser fortes necessariamente e muita criatividade. (Veja-se o caso dos EUA, uma das economias mais poderosas do mundo e o que por lá está a acontecer. Depois do problema sanitário virá uma crise sem precedentes para a economia americana que terá reflexos no mundo. E logo num país onde os auxílios sociais são praticamente inexistentes, tudo se submetendo às leis frias do mercado). Aquilo que conquistamos nos últimos anos foi por água abaixo e teremos que recomeçar de novo. O superavit esfumou-se e uma nova recessão estará aí, o déficit e, - ainda para agravar -, o desemprego para criar ainda mais problemas. Este aumentará substancialmente porque muitos dos trabalhadores em 'lay-off' não regressarão aos seus postos de trabalho porque as empresas também terão que se reestruturar e reajustar. Com uma economia aberta como a nossa, com a elevada dívida pública que temos, com os juros a aumentar e com os nossos parceiros também eles a braços com problemas, o panorama afigura-se necessariamente sombrio. Todos os países estão a buscar os seus ajustamentos e Portugal não é exceção. Para além do otimismo que se tenta passar, a realidade será bem diferente. Não vou falar de números que podem ser redutores, - e eles já vão existindo -, nem das afirmações recentes do FMI, que sempre tem uma visão apocalítica das situações. Mas podem crer que a onda gigante está a formar-se e virá mais cedo do que tarde a reivindicar o seu quinhão. Depois da pandemia a crise. Um ciclo inevitável que se verificou ao longo da História e que se repetirá de novo. Os mais vulneráveis - sejam países ou pessoas - serão sempre os que mais sofrerão. E isto não nos pode deixar tranquilos.
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