Turma Formadores Certform 66

Wednesday, April 08, 2020

Já lá vão 19 anos

Parece que foi ontem e já passaram 19 anos desde aquela manhã de abril - era Domingo de Ramos - quando eu estacionava no parte do hospital e tu partias para sempre. Nunca esquecerei esse dia, em que antecipando aquilo que iria acontecer, estava desalentado, cansado, quase que nem suportava o peso dum casaco sobre os ombros. Mas era verdade, o inevitável tinha acontecido. Tinhas partido definitivamente da minha companhia. (Já tinha passado por situações idênticas no passado, mas uma Mãe tem sempre um peso diferente de qualquer outra pessoa). Depois foi a travessia do deserto - do meu deserto porque não aceitei o inevitável - por lá vagueei sob sol escaldante e noites gélidas, sedento, trémulo, indefeso. Arrastei uma cruz pesada, - senti-me esmagado pelo seu peso -, mas lutei e sobrevivi. Porque era importante que isso acontecesse. Depois de todos estes anos, ainda sou capaz de reconstruir passo a passo tudo o que aconteceu. Porque a dor foi (é) imensa e nem sempre estamos preparados para aceitar. Mas a vida continuou - ela continua sempre, queiramos ou não - e o tempo, esse grande curador das feridas, foi atuando, foi esbatendo o sucedido, mas nunca o apagou da minha memória. Porque há coisas que não podemos esquecer. Este sempre é um dia difícil para mim. Inevitavelmente a minha caixa de Pandora abre-se e tudo volta, mas é preciso continuar. Sim, este é um dia difícil por tudo aquilo que já aqui deixei. Apesar disso, a vida continua embora arrastada pelas cadeias da dor e do sofrimento. Destruíram-te, minha Mãe, mas não conseguirão apagar-te da minha memória enquanto por cá andar. Descansa em paz!...

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